49 Congreso Internacional del Americanistas (ICA)

Quito Ecuador

7-11 julio 1997

 

Reinaldo Correa Costa

GEO 02: DINAMICA DE LOS TERRITORIOS Y DE LAS REDES DE LOS ESPACIOS ANDINOS Y AMAZONICOS

O CONFLITO ENTRE APOÌO ESTATAL E GRUPOS SOCIAIS: UM ENSAIO SOBRE A AMAZONIA ORIENTAL BRASILEIRIA.

Reinaldo Correa Costa*

A Amazonia desde o sculo XVII tem sido motivo de muitas preocupaçôes, sejam elas, estratgicas (militares), políticas, economicas etc, porm, depois da dcada de 1960 houve um aumento de interesses para assenhorar-se da Amazonia, nâo só a brasileira, tambm a latinoamericana. Tais interesses nâo eram(e nâo sâo) somente dos governos dos quais há em seus territórios a Amazonia, esta tambm preocupaçâo para países interessados em madeiras, minrios, ervas medicinais, banco gentico ..., que em sua grande maioria sâo do chamado Primeiro Mundo. No caso brasileiro as atitudes foram fundamentadas em um discurso que levava a Segurança Nacional como uma das quest>es básicas, integrar para nâo entregar era um dos lemas. Para ocupar a Amazonia, os planos governamentais subjugaram os habitantes tradicionais, como índios, camponeses, ribeirinhos, pequenas cidades etc, isto em prol do desenvolvimento da regiâo. Acontece que os atos do Governo Federal em relaçâo aos amazonidas foi violento e prejudicial para o espaço geográfico regional.

Em particular quero referir-me a Amazonia Oriental, mais precisamente ao sudeste do Estado do Pará (Brasil), área onde sobram problemas, e. g. , o meio ambiente degradado, os conflitos pela posse de terras, a cobiça por minerais, o lago da hidreltrica de Tucuruí entre outros. Tais fatos nâo acontecem isoladamente, estâo conectados, pela força dos processos históricos e pelos interesses alheios aos dos Amazonidas, inclusive promovidos com o apoio de políticos e empresários locais; a própria participaçâo do Brasil no cenário internacional subsidia relaçôes específicas para agirem na Amazonia. Nesse aspecto o sudeste paraense marcado pela resistencia de grupos sociais: seringueiros,camponeses, índios ..., e isso entendo como um processo lento de instituiçâo da Democracia e da Cidadania por parte destas minorias políticas. Como pensar em modificar essas relaçôes na Amazonia sem democracia e cidadania?. Como fazer das intervençôes do Estado e de seus aliados algo que beneficie a populaçâo amazonida?. Sâo esses os dois pontos sob os quais, tomando como exemplo o sudeste paraense, pretendo dissertar neste ensaio.

*Mestrando em Geografia, Universidade de Sâo Paulo(USP), Sâo Paulo, Brasil.

O CONFLITO ENTRE A,ÌO ESTATAL E GRUPOS SOCIAIS: UM ENSAIO SOBRE A AMAZONIA ORIENTAL BRASILEIRA.

Reinaldo Correa Costa*

O lirismo artístico do navegante corporificava-se no materialismo bastardo do flibusteiro. Somente uma força os movia: a ambiçâo, consubstanciada na fortuna imediata, capaz de ser metida num saco e carregada ^s costas, cópia do que fizera Fernando Cortez no país dos aztecas. Nenhum deles se preocupava com a beleza das paisagens, com o esplendor das águas, com a exuberancia da gleba, com a variedade da fauna, com a doçura do clima. Receber de pronto o premio dos dilatados singradouros e volver rápido sobre a esteira das naus era o desejo de todos. Raimundo Moraes(1926)em, Na Planície Amazonica.

AMAZONIA SUL-AMERICANA

Um dos discursos a respeito da amazonia que esta regiâo patrimonio da humanidade, tal falácia propícia de países desenvolvidos, pois, a soberania da Amazonia nâo se discute, ela daqueles que nela habitam dentro de um Estado Nacional, isto , já está historicamente ocupada pelos países que tem partes da bacia amazonica em seus territórios. A questâo ecológica internacional colca-se como ponto fraco para a regiâo, neste caso, a geopolítica entra com um discurso de proteçâo ao meio ambiente, e entâo a amazonia passa a ter outro significado para a humanidade, principalmente neste fim de sculo. Diante desta geopolítica a amazonia valoriza-se como fonte de recursos para o mundo e para os seus respectivos países, isto alimentado por governos autoritários, empresas transnacionais, que passam a dirigir a ocupaçâo segundo a filosofia do desenvolvimento e segurança, estimulam a migraçâo, os conflitos e o tráfico fronteiriço, intensificando as práticas bilaterais(BECKER:1996).

*Mestrando em Geografia, Universidade de Sâo Paulo(USP), Sâo Paulo, Brasil.

A Amazonia desde seu começo ligada aos mitos, porm, existe uma realidade. A idia do El Dorado , do vazio demográfico, da homogeneidade amazonica, entre outros, sâo discursos que visam justificar açôes na regiâo. Nesse aspecto de mitos e realidades da Amazonia TORRE(1996) comenta que:

La Amazonia no es virgen ni es un espacio vacío donde la naturaleza está en estado primitivo e intocado, ni constituye um inmenso laboratorio donde las fuerzas de la naturaleza actoan sin la intervención humana. La región tiene una larga ocupación humana de más de 20 mil años, ahora con 22 millones de habitantes, de los cuales um millón son indígenas, con ciudades que superan el millón de habitantes(Manaus, Belm) y cuya población crece a altas tasas, que superam el 3% anual de varias zonas. La región ha sido ampliamente explorada en busca de recursos minerales(petróleo, gas y metales); es objeto ahora de una fuerte superposición de intereses conservacionistas y desarrollistas(buscadores de oro, explotaciones minera y petroleras, extractivistas, migrantes, etc.); posee 42 mil kilómetros de carreteras, redes fluviales y terminales areos.

AMAZONIA E O BRASIL

A Amazonia em seu contexto no teritório brasileiro, tem muita importancia, principalmente por motivos de estratgias geopolíticas ligadas as press>es ecológicas e recentemente no quadro dos movimentos sociais. Faz-se necessário ressaltar que o desenvolver do processo histórico o que há uma relaçâo de um poder central com a regiâo sobre os amazonidas, parece que a questâo da regiâo e naçâo na Amazonia e a história da regiâo com o Estado brasileiro e as superposiçôes desse Estado ^s manifestaçôes locais, e a consolidaçâo local das representaçôes desse Estado Central(SOUZA:1994).

A redescoberta da Amazonia, vem quando esta aparece como zona amortecedora, para evitar convuls>es sociais no nordeste brasileiro e de outras regi>es do País. Talvez por isso at hoje suas fronteiras nâo estejam bem demarcadas. O termo Amazonia Legal, para designar a área de abrangencia da Amazonia, serve mais para a captaçâo de investimentos e menos para o desenvolvimento dos amazonidas(índios e nâo índios). O projeto de futuro dos habitantes da Amazonia o mesmo dos habitantes do resto do Brasil? Nâo. Estes desdobramentos históricos fazem da regiâo uma área de ocupaçâo, onde o Estado Nacional traça os planos com bases em alianças políticas que desconhecem as realidades amazonicas, e isto aperfeiçoado pelo aparelho burocrático do País, inclusive atualmente, ^s portas do sculo XXI; face a isto PINTO(1994) conclui que:

Nós estamos numa regiâo de ocupaçâo muito mais do que numa regiâo de fronteira . Essa características histórica da Amazonia terrível para a própria regiâo. Porque ela condena os seus habitantes a nâo ter uma visâo de seu próprio processo histórico. Eles sempre estâo diante desse processo como o nativo diante do bwana , na çfrica. Nós sempre estamos esperando que ele nos diga o que nós somos, o que nós devemos fazer. Isso tem minado a capacidade de conduçâo do processo histórico na Amazonia.

Talvez esteja na citaçâo acima a explica;câo pela opçâo de estradas e a rejeiçâo das hidrovias; tambm a citaçâo fonte para entendermos que o grande capital da Amazonia vindo dos chamados Grandes Projetos contrastam e geram desigualdades sociais e pobreza. A lógica do capitaismo na regiâo funciona como se estivessemos no sculo XVII. Há a oportunidade de mudar esta realidade, com o uso do maior banco gentico do mundo e da maior biodiversidade do planeta, que estâo na Amazonia. Isto necessário devido existir uma enorme desigualdade de forças entre os grupos que estâo na regiâo, de um lado os amazonidas(índios, posseiros, ribeirinhos, seringueiros, castanheiros, camponeses e uma pequena burguesia) e de outro lado coisas do tipo CVRD, ELETROBRçS, ALCOA,ALCAN, AGRALE, NIPPON STEEL, PARANAPANEMA entre outros gigantes; a regiâo nâo a mesma dos prjetos de Henri Ford(1927) e de Daniel Ludwig(1967).

A Amazonia neste fim de sculo, encontra-se diante de uma realidade que lhe adversa, e muito, pois, ela fomentada, entre outros pelo Governo Federal. Na Amazonia, percebe-se que ocorreu uma ruptura entre o que existia e a proposta efetivada pelo Governo.

Em termos de estrutura espaço-temporal, poderíamos afrimar que ocorreu, sem dovida, uma quebra de simetria entre o antes e o depoisí, o que permitiria caracterizar o processo como sendo de tipo irreversível. Aceitar essa afirmaçâo implica, nâo aceitar que a origem da irreversibilidade se encontre na complexidade ou na falta de controle sobre todas as variáveis do sistema. A irreversibilidade seria propriedade intrínsica do sistema gerado(MACHADO:1996).

O que foi criado pelo governo central foi responsável por uma nova organizaçâo do espaço, e pela desorganizaçâo do anterior, que como característica a inconstancia, que foi ampliada e reforçada com a açâo do governo, e isso permitiu a entrada de novos atores sociais com poder de barganha e o respaldo do Uniâo, entâo, as modificaçôes na paisagem forma inerentes, criando maiores desigualdades sociais e com um aumento populacional oriundo da imigraçâo planejada. Temos agora, um novo tipo de organizaçâo, ALMEIDA(1994) faz a seguinte análise:

Nestes antagonismos, em que a primeira vista nâo há o predomínio político de classes, as categorias de mobilizaçâo refletem, na medida adequada, o tipo de intervençâo dos aparelhos de Estado. Os agrupamentos traduzem efeitos de açâo, senâo vejamos: atingidos por barragensí, remanejadosí, reassentadosí e asssentadosí. Prevalecem tambm noçôes genricas, que encobrem possíveis especificidades, tais como: povos da florestaí e ribeirinhosí. O que parece importar que categorias de circunstancias(atingidos) surgem combinadas com outras de sentido permanente(povos da floresta) no contexto dos conflitos abertos.

Isto mostra que nâo uma soma de organismos de representaçâo que está agindo e buscando uma saída local. O que há uma via onica de interlocuçâo, com negociaçôes ao nível do global(de todos os lugares). Isto com base nos princípios gerais das políticas, entâo, aquele que próprio do local foi sendo relativizado, há assim, uma globalizaçâo de lutas localizadas, que num tempo onico exigem interlocutores distintos, mas que simultaneamente tratam os aparatos de Estado em bloco e procuram ampliar as suas redes de apoio e pressâo(ALMEIDA:1994).

Com a proposta de entender a organizaçâo do espaço na Amazonia Oriental, procuro separar diversas formas de resistencia, identidade, organizaçâo etc, na realidade em construçâo. Nâo tenho competencia de aprofundar-me em tais temas, porm, esses temas sâo de outras esferas, e. g. , o poder de alguns atores sociais; outra esfera, a dos sindicatos, sendo que neste oltimo caso, o raio de açâo o limite do município. Em tais lugares os grupos conservadores sempre tiveram hegemonia, só que atualmente tem de dividir espaço com aqueles grupos populares, que já estâo sendo estruturados. Existem tambm propostas de alianças que visam enfraquecer a base do movimento popular. Quanto a organizaçâo e produçâo, a variedade de ambientes físicos e sócio-economicos influenciam na quantidade, qualidade e nos tipos de produtos a serem comercializados. O mercado como o elo com o que está de fora do mundo nâo urbano, subsidia resistencias e passa a ser uma espcie de salvaçâo.

Mesmo tratando mais de um gradiente de condiçôes do que de classes descontínuas, pode-se em um primeiro momento, para tentar relacionar as grandes lógicas dos sistemas de produtos praticados pelos agricultores, distinguir, em funçâo das possibilidades de comercilaizaçâo de produtos, tres grandes grupos de situaçôes. As possibilidades de escoamento dos produtos comandam a gama de produtos possíveis. Levando-se em consideraçâo as necessidades monetárias, a difersificaçâo procurada nâo pode ser efetivada em situaçôes isoladas, sem acesso ao mercado(HfBETTE et. al. : 1995).

O CASO DO SUDESTE PARAENSE

O sudeste do Estado do Pará marcado por grandes problemas em seu espaço geográfico; de uma maneira bem suscinta mostrarei quatro exemplos: 1¼) O Projeto Grande Carajás, 2¼) A Hidreltrica de Tucuruí, 3¼) Os camponeses e a luta pela posse da terra e 4¼) Os êndios. Quero ressaltar o modo suscinto, resumido, sob o qual estou mostrando tais exemplos.

O Projeto Grande Carajás (PGC)

Está em uma área de aproximadamente 900.000km. Na Serra dos Carajás, localizada a oeste de Marabá(a maior cidade do sudeste paraense), nessa província mineral há ferro, manganes, cobre, alumínio, níquel, estanho, ouro..., explorada por uma estatal brasileira a CVRD(Companhia Vale do Rio Doce) articulada com grupos transnacionais como ALCOA(Aluminium Company of America), NALCO(Nippon Amazon Aluminium Co.), ALCAN(Aluminium Company of Canada), entre outras. Da serra dos Carajás(PA) ao porto de Itaqui, no Estado do Maranhâo, há a Estrada de Ferro Carajás(EFC) que faz a ligaçâo da mina com o porto exportador, a EFC tem 889,34 km e foi inaugurada em 1985. Um exemplo do impacto causado pelo PGC citado por BOFF(1996):

Ao longo da ferrovia se instalaram cerca de 30 fundiçôes de ferro-gusa, ferro-ligas e unidades de beneficiamento de outros metais, tudo movido ^ carvâo vegetal. Isso envolve 25 milh>es de metros cobicos de madeira extraída de 1,5 milhâo de hectares desmatados.

No entorno do PGC há divesas cidades afetadas pelo projeto, nelas aparecem os movimentos sociais que reclamam por melhores condiçôes de trabalho e de circulaçâo, onde a mulher excluída de atividades com salários mais elevados e nâo devemos esquecer do alto índice de prostituiçâo, inclusive infantil. Faz-se necessário contabilizar os lucros e prejuízos que o PGC deu aos moradores tradicionais, que estâo em sua área de abrangencia. Para isso tem-se que incluir os impactos sobre os diferentes modos de vida da populaçâo do sudeste paraense e de áreas do Maranhâo, e com isso, como sendo (re)construído os seus espaços de vida, em momentos de chegada de novos atores sociais, que estabelecem novas relaçôes e com interesses diversos sobre os recursos naturais.

A hidreltrica de Tucuruí

Situada no rio Tocantins, a maior hidreltrica inteiramente nacional e a quarta maior do mundo. Faz parte do PGC, inunda uma área estimada em 2.830km, e aproximadamente 170 km de extensâo com uma mdia de 30m de profundidade. Construída para atender as necessidades energticas dos projetos minerais da regiâo, e tambm para suprir com energia eltrica a cidade de Belm, capital do Estado do Pará, e regi>es próximas. Com a formaçâo do lago, apareceram problemas como a proliferaçâo de mosquitos em certas áreas, impedindo ocupaçâo humana e desalojando muitos moradores tradicionais que viviam ^s margens do rio Tocantins, principalmente ribeirinhos e índios. MAGALHÌES(1994) comenta:

Do ponto de vista sociológico, para estes camponeses já pauperizados pelo enfrentamento de um processo de transferencia que se prolongou por cinco anos, marcado, ademais, por constantes embates com a empresa estatal, foi, praticamente inviabilizada a retomada do processo produtivo e das condiçôes sociais anteriores de produçâo e reproduçâo. Por exemplo, foram fragmentados os laço de reciprocidade com a dispersâo das unidades domsticas pelos lotes ou pelos povoados, foi destruído o trabalho objetivado, durante dcadas na formaçâo de sítios, quintais, na construçâo de moradias, paióis etc, de importancia vital naquela economia camponesa.

Deste processo resulta o enfraquecimento da unidade familiar, levando ^ procura de trabalho assalariado nas cidades, ou para outros proprietários. E as terras para as quais foram transferidos, na sua maioria, sâo de má qualidade e longe de estradas. Com a formaçâo do lago, as partes mais altas de alguns morros tornaram-se ilhas, sâo aproximadamente 522, e algumas estâo ocupadas por ribeirinhos, onde proibida a agricultura, alm de haver conflitos com a ELETRONORTE que quer desocupar as ilhas, justificando proteçâo ao meio ambiente, e os fazendeiros alegando que estas ilhas faziam parte de suas propriedades e que agora estâo submersas. Outro fato constatado, as terras de melhor qualidade ficaram submersas, junto com uma grande parte de madeiras nobres.

Camponeses e a luta pela posse da terra

O processo de ocupaçâo da amazonia deu enfase as rodovias, negando a viabilidade dos rios como meio de trnasporte. Em funçâo do processo de colonizaçâo dirigido pelo Governo Federal, constrói-se em 1971 a rodovia Transamazonica. O objetivo era conectar as zonas miseráveis do nordeste brasileiro com a Amazonia, para que essa estrada fosse uma oportunidade de fugirem da seca, havia um plano de assentar aproximadamente 1 milhâo de pessoas, isto porque a Amazonia era encarada como vazio demográfico. O projeto fracassou. Os camponeses hoje lutam para fixarem-se na terra, ou seja, nâo terem que desfazerem-se de seus lotes, as dificuldades para produzir e fazer circular a produçâo sâo grandes e nâo há apoio do Governo seja na esfera estadual ou federal. Alm disso, as relaçôes capitalísticas próprias desta área ameaçam os camponeses, tornando o sudeste paraense uma das áreas mais violentas do Brasil, essa violencia ocorre pela falta de uma estrutura fundiára justa, democrática e pela certeza da impunidade, leia-se tambm, falta de Reforma Agrária. Nesse aspecto as cidades tem um grande peso nas lutas políticas, pois, elas sâo os lugares onde política e a economia tomam força e forma neste contexto de industrializaçâo do fim do sculo. Um exemplo do que acontece com os camponese comentado por PICARD(1994):

Os oltimos castanhais do sudeste do Pará, estâo em vias de ocupaçâo pela agricultura familiar. Ao longo da segunda metade dos anos 80, o esgotamento dos principais garimpos da regiâo, assim como um certo afrouxamento da atividade economica das cidades, conduziram alguns trabalhadores que haviam abandonado o setor agrícola a voltar para este. A fama de Marabá como regiâo dinamica continua a atrair - embora num ritmo menor que antes - migrantes que agora usam a estrada de ferro Itaqui-Carajás. Nem todos sâo agricultores, mas mesmo estes instalam-se, inicialmente, na periferia das cidades da regiâo, Marabá e Parauapebas em primeiro lugar, empregando-se , ocasionalmente, na agricultura, nos garimpos, na exploraçâo madereira, na construçâo civil ou no pequeno comrcio varejista.

Os indios

Os índios, primeiros donos da terra, estâo atualmente quase que dizimados. Violencia patrocinada principalmente pelos já mencionados Grandes Projetos do governo federal que transferiu os índio de suas localidades tradicionais, alm de reduzirem suas áreas, com os seus territórios tradicionais localizados em áreas onde se instalaram os chamados grandes projetosí na Amazonia Oriental, tres povos em particular foram diretamente atingidos e outros dois de modo menos direto, mas nâo menos significativo: os Parakanâs, os Parkatejes e os Xicrin , alm dos grupos tupis Aikewar e os Asurini (FERRAZ: 1993).

O interessante que os grupos indígenas com formas de respeito aos recursos naturais, com manejo adequado de caça, pesca sâo contestados por nâo enquadrarem-se no modelo industrial de desenvolvimento, sendo taxados de atrasados, primitivos e de outras ignorancias. Um punhado de índio nâo podem impedir o progresso nacional, principalmente se no subsolo de áreas indígenas tiver minerais. f preciso ter definiçâo e demarcaçâo das terras indígenas, que precisam do ambiente que está em seu entorno por motivos de existencia, de cultura. No contexto atual, o futuro para os índios nâo animador, pois, com a diminuiçâo de suas áreas com os desmatamentos próximos, causados por fazendeiros, garimpeiros, empresas etc, haverá uma diminuiçâo da área de caça, de pesca, de coleta e de plantaçôes, entâo haverá uma dependencia do mercado do civilizados, isto , se nâo morrerem antes.

AS POSSIVEIS BASES DE PLANOS E ESTRATEGIAS PARA AMAZONIA

Atravs dos exempos citados anteriormente, e de uma maneira bem reduzida, percebemos que a Amazonia vista como fonte de recursos, tábua de salvaçâo ou qualquer coisa parecida. Os planejadores esquecem que esta regiâo acima de tudo, de seus moradores, isto , um espaço geográfico amazonico, e nâo somente flotresta, rios etc. Sobre o processo de integraçâo da amazonia ALENCAR(1996) comenta que tomando como paradigma o processo de integraçâo conduzido por espanhóis e portugueses, nâo seria exagero dizer que a história de integraçâo da Amazonia a história das lutas e desgraças da regiâo e de seus habitantes (ressalvados alguns poucos integrantes das diminutas elites regionais).

O processo de integraçâo da Amazonia está enquadrado em uma ampliaçâo de relaçôes capitalísticas específicas, regionalmente localizadas que nâo consideram a dimensâo humana da regiâo e os seus diferentes modos de vida, e nâo vai ser nenhum tipo de mâo invisível de mercado que vai alterar as disparidades sociais existentes, sejam no Brasil, no Equador, no Pero ou em outro país.Tem-se que pensar Amazonia tambm sob um possível desprezo, principalmente no Brasil, em relaçâo ao Cone Sul (MERCOSUL), e isto mais uma vez pode colocar a regiâo como objeto e nâo como sujeito.

Neste final de milenio a violencia tem sido característica, os conflitos, os genocídios e os etnocídios mancham de sangue a história da Amazonia.O massacre de índios, de camponeses; as guerrilhas, sejam no campo ou nas cidades, o crime organizado, seja do narcotráfico ou de empresas estatais e privadas construíram uma realidade que afoga as sociedades amazonidas na dor e no desespero. Isso um dos reflexos que acontecem numa regiâo quando ela planejada com visâo de fora, desrespeitando a visâo de dentro.

A ciencia moderna pouco contribuiu para os amazonidas, só aqueles moradores de grandes cidades sâo beneficiados, ou melhor, quase todos. Talvez na chamada ciencia pós-moderna esteja um dos pontos para o desenvolvimento das sociedades. Para SANTOS(1988) a ciencia pós-moderna uma ciencia assumidamente analógica que conhece o que conhecia pior atravs do que conhece melhor,(...) e julgo que tanto a analogia como lodica, como a analógia biográfica, figurarâo entre as categorias matriciais de paradigma emergente: o mundo, que hoje natural ou social e amanhâ será ambos, visto como um texto, como um jogo, como um palco ou ainda como autobiografia.

No atual contexto amazonico, essa ciencia pós-moderna, aparenta ser aquela que considere as diferentes amazonias e por isso pode ser profícua para a regiâo, por resultado, quem sabe teremos tecnologias socialmente apropriadas pelos amazonidas, usualmente, as tecnologias socialmente apropriadas desenvolvem-se a partir de fontes de energia alternativas e renováveis, como a eólica, solar hidraolica, biogás, traçâo animal e nergia humana, alm de nâo envolverem pagamento de royalties e altos custos com transportes(FERRAZ JR:1995).Dessa maneira a ciencia pós-moderna, ao sensocomunizar-se, nâo despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas entende que, tal como o conhecimento se deve traduzir em autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de vida(SANTOS:1988).

Finalmente, a idia de organizaçâo do espaço nâo deverá ser encarada somente como exercício intelectual, tambm deverá ser vista como prática social. Tentemos ser nâo apenas cientistas, mas intelectuais. Nesse sentido, muito bom lembrar SARTRE(1994):

Em suma, todo tcnico do saber potencialmente intelectual , já que definido por uma contradiçâo que nada mais que o combate permanente entre sua tcnica universalista e a ideologia dominante. Mas nâo por simples decisâo que um tcnico se torna intelectual de fato : depende de sua história pessoal ter ou nâo conseguido desfazer nele a tensâo que o caracteriza; em oltima análise, o conjunto dos fatores que realizam a transformaçâo de ordem social.

Cada organizaçâo do espaço fruto das realidades locais, e nâo acontece sem lutas, sem adversidades. A base para a organizaçâo espacial deve ser democrática, voltada para a comunidade local, isto soa distante, principalmente se a regiâo for a Amazonia, porm, nâo uma empreitada impossível.

Sem embargo, nâo devemos ser xenófobos-amazonidas, e pretender ser os onicos a entender, conhecer e ter decis>es sobre a regiâo, isto poderia manter o status quo das elites nacionais ou regionais. Por outro lado entregar decis>es para nâo-amazonidas inaceitável. O fundamental nas decis>es que haja bases democráticas em todos os segmentos do espaço geográfico. As geraçôes atuais, amazonida ou nâo, tem que procurar arreglar para as geraçôes futuras da humanidade, um projeto democrático e benfico, sem prejuízos para a regiâo, afinal de contas, a Amazonia nâo só violencia ou desgraças, como quer uma parte da mídia, há o beneplácito da natureza com o lado potico e humilde de sua populaçâo e a beleza de sua natureza sâo quase esquecidas(CASTRO:1996).

BIBLIOGRAFIA

- ALENCAR, J. M.Q.Os significados político e economico da Amazonia para a Amrica Latina: Por uma agenda Amazonica.In: PAVAN, C.(coord)Uma estratgia Latinoamericana para Amazonia, vol 3. Sâo Paulo.Ed. UNESP.1996.

- ALMEIDA, A. W. B.Universalizaçâo e Localismos: Movimentos sociaise crise dos padr>es tradicionais de relaçâo política na Amazonia. In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org): Amazonia e a Crise da Modernizaçâo. Belm.MPEG.1994.

- BECKER, B. K. Significado geopolítico da Amazonia.Elementos para uma estratgia.In: PAVAN, C.(coord)Uma estratgia Lationoamericana para Amaonia, vol. 3. Sâo Paulo.Ed. UNESP.1996.

- _____________ Estado, Naçâo e Regiâo no final do seculo XX.In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org)Amazonia e a crise da Modernizaçâo. Belm.MPEG.1994.

- BOFF, L. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. Rio de Janeiro. çtica.1996.

- CASTRO, E. Processos de trabalho e relaçôes de poder no Carajás.In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org.)Amazonia e a crise da Modernizaçâo. Belm,MPEG.1994

- CASTRO, J. C. D.Depoimento. In: PAVAN,C.(coord)Uma estratgia latinoamericana para Amazonia, vol 3. Sâo Paulo. Ed.UNESP. 1996.

- FERRAZ, I. Povos indígenas do sul do Pará e os impactos dos Grandes Projetos.In: DIEGUES, A. C. (coord). A dinamica social do desmatamento na Amazonia: Populaçôes e Modos de Vida em Rondonia e Sudeste do Pará: Sâo Paulo. NUPAUB. USP.1993.

- FERRAZ JR, F. A. C.Transferencia de tecnologias apropriadas: antigas tradiçôes como novos modelos; um caminho para o terceiro mundo.In: ARROYO, M. et. al (org)O Novo mapa do Mundo: Problemas Geográficos de Um Mundo Novo. Sâo Paulo. HUCITEC/ANPUR.1995.

- FERREIRA, O.Reflex>es sobre a Naçâo e a Amazonia.In: SILVEIRA, I. M. et.al. (org)Amazonia e a crise da Modernizaçâo. Belm.MPEG.1994.

- HfBETTE, J. et. al. Agriculturas Familiares e Desenvolvimento em Frente Pioneira. Clamecy. LASAT/CAT/GRET/UAG.1995.

- MACHADO, L. O. Sistemas longe do equilíbrioíe reestruturaçâo espacial na Amazonia.In: MAGALHÌES, S. B. et. al. (org): Energia na Amazonia, vol II. Belm. MPEG/UFPA/UNAMAZ. 1996.

- MAGALHÌES, S. B. As grandes hidreltricas e as populaçôes camponesas. In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org)Amazonia e a crise da Modernizaçâo. Belm.MPEG.1994.

- OLIVEIRA, F. A reconquista da Amazonia.IN: SILVEIRA, I. M. et.al. (org)Amazonia e a Crise da Modernizaçâo. Belm. MPEG. 1994.

- PICARD, J. O clietelismo nas colonias agrícolas do sudeste do Pará. In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org)Amazonia e a crise da Modernizaçâo.Belm. MPEG. 1994.

- PINTO, L. F. A Amazonia entre estruturas desfavoráveis. In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org)Amazonia e a crise da Modernizaçâo. Belm. MPEG. 1994.

- SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciencias na transiçâo para uma ciencia pós-moderna. In: Revista de Estudos Avançados, maio/agosto, vol. II, n¼ 2. Sâo Paulo. USP. 1988.

- SARTRE, J-P. Em defesa dos intelectuais. Sâo Paulo. çTICA. 1994.

- SOUZA, M. Representaçâo regional, Cabanagem e Leseira: Só elite quem age contra os interesses da regiâo. In: SILVEIRA, I. M. et. al. (org)Amazonia e a crise da Modernizaçâo. Belm. MPEG. 1994.

- TORRE, L. C. Políticas y estrategias de desarrollo sustentable para la región Amazónica. In: PAVAN, C.(coord)Uma estratgia latinoamericana para a Amazonia, vol. III. Sâo Paulo. Ed. UNESP. 1996.

- VALVERDE, O. Amazonia: ecologia, economia e política. In: PAVAN, C.(coord)Uma estratgia latinoamericana para a Amazonia, vol. III. Sâo Paulo. Ed. UNESP. 1996.


Buscar en esta seccion :