CONGRESO VIRTUAL 2000

Do corpo ao espectáculo: descontextualização, recontextualização e políticas da diferença

Abstract

Tomou-se a cidade do Porto como laboratório e as ilhas e os novos condomínios como lugares-modelo de construção social dos paradigmas urbanos e da sua transição, quer em termos de sentidos nomeados, espaciais e vividos, quer como pontos de acesso face às estruturas socio-espaciais e de sentido. E este percurso de investigação possibilitou-nos então pensar a transição da cidade para a metrópole de uma forma global.

1. O mundo como organismo e a cidade higiénica

A cidade no século XIX é, as mais das vezes, entendida como um organismo vivo, e é este organismo que se torna necessário estudar, descrevendo as suas forças e diagnosticando as suas fraquezas. A metáfora orgânica torna-se central, sendo a higiene o sistema pericial urbano, por excelência, e os médicos-sociais os seus principais especialistas. O organismo, extensão do corpo humano, é o signo descontextualizador da cidade que se vem sobrepor-substituir ao mecanismo, extensão do relógio e signo normalizador do mundo urbano desde o século XVII. Como diz Giddens (1995), o esvaziamento do tempo é, em grande medida, a pré-condição para o esvaziamento do espaço e se a metáfora mecânica e o relógio inscreveram zonas uniformes no dia, a metáfora orgânica inscreveu zonas uniformes no espaço. A cidade toma, muitas vezes, as diferenciações inerentes a um qualquer organismo, tornando-se literalmente um espaço vital: o centro e a periferia distinguem-se por círculos sucessivos em Manchester, no Porto, em Chicago, ...; uma cidade oriental distingue-se de uma outra ocidental em Londres, no Porto, em Paris, ...; uma cidade alta distingue-se de uma cidade baixa ... . Aparentemente, estas divisões - dicotómicas as mais das vezes - que atravessam diversas cidades de um e outro lado do Atlântico, surgem espontaneamente mas, de facto, elas são contemporâneas da mudança de uma weltanschauung mecânica, paradigmatizada pelo relógio, para uma weltanschauung orgânica, paradigmatizada pelo corpo humano que uma “medicina dos orgãos” introduz como modelo de base de análise do mundo. Assim, o modelo orgânico hegemónico reflecte-se no espaço construído e praticado da cidade como uma ideologia em acção, sendo difícil destrinçar uma relação simples causa-efeito entre cidade praticada e cidade pensada.

A dialéctica cidade pensada - cidade praticada, centrada no paradigma do organismo, constitui uma mudança na política da diferença. Numa cidade apreendida segundo o paradigma do mecanismo, todo o mau funcionamento do mesmo deriva de uma qualquer influência exterior nefasta. Em tais circunstâncias, o sistema de regulação entre o exterior e o interior era activado, fechando-se a cidade completamente sobre si mesma e impedindo assim, por um lado, a contínua entrada dos elementos nefastos (pessoas, miasmas, etc.) e, por outro lado, a saída de quaisquer elementos na expectativa de que o mal se manifestasse e fosse eliminado publicamente, sendo o fogo o elemento purificador mais repetidamente usado. As diversas mudanças ocorridas na transição do século XVIII para o XIX impediam a continuação da mesma política da diferença e tornavam necessário um novo paradigma que legitimasse a mudança. Este novo paradigma constitui-se a partir do saber médico, congregando os avanços da medicina e de outras ciências auxiliares num sistema pericial especificamente centrado nos problemas urbanos, denominado Higiene. É o hospital que sai de si próprio, tornando-se toda a cidade hospitalar. Os higienistas são, maioritariamente, médicos-sociais, ou seja, uma classe de médicos que atribui a si própria a responsabilidade de policiar, diagnosticar, ajuizar e ortopedizar a cidade como um todo, na pluralidade dos seus problemas, não sendo aquela senão um corpo a abrir para diagnosticar os problemas e extirpá-los. A regulação entre o interior e o exterior não desaparece, mas altera-se substancialmente: é o interior agora que tem que ser tornado completamente visível nas suas chagas para que, depois, se possam centrifugar os elementos nefastos para o exterior. Na sociedade medieval, a organização espaço-temporal da cidade excluía a diferença para além das muralhas e quando, conjunturalmente, a incluía atribuía-lhe o não-lugar da prisão, metonímica do exterior atemporal e aespacial. A diferença do criminoso e do leproso era, aliás, a do limiar entre os homens e as bestas, reais e imaginárias. A sociedade moderna abre-se ao Outro pela sua gradual inclusão na organização espaço-temporal, ao mesmo tempo que deslocaliza o ego pela descontextualização que a abertura espaço-temporal propicia. O organismo inclui mais facilmente as deficiências sem morrer, do que o mecanismo os defeitos sem parar. A metáfora higiénica da cidade-organismo inscreve nesta a relação pericial análise-diagnóstico-prescrição e possibilita assim a substituição de uma legitimação da mudança urbana em função da tradição, por uma legitimação em função da prospecção, projectando sempre o lugar do Outro na periferia de uma organização espaço-temporal mais vasta. Esta substituição da tradição pela prospecção possibilita também que à exclusão da diferença se substitua a inclusão disciplinada da diferença

Esq. I

O mundo higiénico, baseado na homologia entre organismo e sociedade, torna análogas a saúde e a civilização por um lado, e a doença e a barbárie por outro. Para além disso, e a partir de indicadores demográficos, demógenos e outros, qualificadores do grau de civilidade pelos índices de criminalidade, pela taxa de natalidade e de outras qualidades sociais, cria-se uma correspondência entre (in)salubridade física, social e moral como salvação ou como perdição. Esta visão higiénica do mundo estabelece uma tensão essencial que se pode conceber como um permanente perigo de contágio da civilização pela barbárie e da saúde pela doença. O Outro, associado que é agora à doença, deixa gradualmente de fazer parte de um estado de diferença radical, condenado pelos seus sinais à exclusão-reclusão, para se inscrever num espaço-tempo mais abstracto que unifica cada vez mais o eu e o outro no mundo humano, relativizando as diferenças absolutas de humanidade existentes na era pré-moderna. No entanto, aos estados de humanidade e não humanidade, substitui-se uma relação de diferença baseada nas diferenças entre passado e presente e entre centro e periferia. O Outro é, então, associado à barbárie, não sendo a doença senão um sintoma do seu lugar periférico na nova escala espaço-temporal das diferenças. Não podendo ser eliminado do mundo humano, pode, no entanto, ser erradiado para um espaço-tempo periférico que é agora adequado à moderna definição da diferença. Foi a abertura gradual das cidades na era moderna, pela pressão do industrialismo e do capitalismo, que possibilitou a abertura do eu ao outro e a gradual humanização do outro que atinge actualmente uma escala planetária, mas esta nova relação com o outro só seria possível mediante a construção de novos sistemas simbólicos que assegurassem os novos estatutos da diferença. É todo um projecto antropológico, no sentido lato, que está na base dessa descontextualização espaço-temporal da diferença e em que as perspectivas iluministas do progresso e românticas da degenerescência e toda a construção socio-histórica de carácter evolucionista e difusionista têm como lugar comum, apesar de todas as suas dissenções, a união do humano num espaço-tempo extremamente abstracto, ao mesmo tempo que assegurava ao Outro a periferia desse mesmo espaço-tempo.

Tendo em conta este quadro, todo um programa para a cidade higiénica é posto em marcha. A questão da diferença toma uma pertinência específica nas cidades, em que a tensão entre um mundo baseado em pressupostos mecânicos e um mundo baseado em pressupostos orgânicos é mais premente. Desprotegida das muralhas medievais e invadida por vagas humanas cada vez mais numerosas, a divisão entre exterior e interior torna-se, cada vez mais, ténue e difícil de estabelecer. A própria noção de “estranho” como Georg Simmel discerniu é alterada, pondo assim em causa o lugar da distinção entre o eu e o outro e o de todos os níveis intermédios entre um e outro que uma perspectiva mecânica e estática legitimava. A cidade era, assim, o lugar da “tensão essencial” entre um mundo que se desmoronava e um mundo que emergia. Não admira que o anti-urbanismo, associado a uma certa ideia de cidade-monstro e a uma nostalgia de uma Idade Média rural, convivesse com posições apaixonadamente pró-urbanas, caracterizando a cidade como lugar de civilização, estímulo de trocas entre indivíduos, da inteligência e da excelência artística. Confrontados com esta tensão de medo e fascinação pela grande cidade e reflectindo nos seus próprios escritos essa ambiguidade paradoxal, os higienistas impuseram a metáfora do organismo à cidade sem, no entanto, criar uma quebra total em relação à weltanschauung mecânica anterior e, principalmente, ao papel da relação interior-exterior como chave da política da diferença. De facto, o programa de saneamento espacial, social e moral implementado pelos higienistas estabelece uma homologia prospectiva entre espaços citadinos e estados diferenciais físicos, sociais e morais. Se a cidade se concebia como um organismo, o centro daquela equivaleria ao sistema aferente desse organismo, enquanto a sua periferia poderia corresponder ao sistema eferente. Toda a lógica da saneabilidade das cidades, em sentido lato, instituída pelos higienistas não é senão a de um sistema de filtragem em que se estabelecem diferentes “pontos de acesso” reguladores das transações físicas, sociais e morais entre a cidade e a periferia e que, substituindo as muralhas derrubadas, possam repor a necessária distinção ameaçada. Neste programa da cidade higiénica, o centro deveria, assim, ser o lugar da salubridade espacial, social e moral, enquanto que a periferia seria o lugar da centrifugação da insalubridade, associando-se assim o centro à pureza e a periferia ao perigo. Entre um espaço e outro, uma série de pontos de acesso se estabelecem no controlo do contágio entre o eu e o outro, na substituição das antigas muralhas medievais.

Esq. II

2. O mundo como espectáculo e a cidade espectacular[1]

Se o urbanismo moderno se fez à imagem de um modelo mecânico dominado pelo esvaziamento do tempo e, depois, à imagem de um modelo orgânico dominado pelo esvaziamento do espaço, a partir da segunda metade do século XX, começamos a assistir a uma descontextualização/recontextualização pelas formas de compressão espaço-temporal em heterotopias[PS1] [2] espectaculares. O espectáculo, extensão do palco e depois do ecrã, é o signo descontextualizador que se tem vindo a sobrepor ao organismo. O espectáculo é, de facto, o resultado do esvaziamento do tempo e do espaço da subsequente constituição de cronotopos, ou seja, de nexos privilegiados em que unidades temporais se cruzam com unidades espaciais. As cidades constróem, cada vez mais, uma determinada imagística em que uma cidade imaginária adere a uma cidade vivida em função da introjecção e projecção de figuras estruturais ou conjunturais como as de “cidade histórica”; “cidade-museu”; “cidade universitária”; “capital do gótico”; “cidade do futuro”; “capital da cultura”; “cidade património da humanidade”, “cidade da exposição universal”, “cidade do campeonato mundial de Futebol”, etc.. Estes epítetos que vêem substituir, no final do século XX, as dicotomias internas da cidade orgânica do século XIX e a dicotomia dentro-fora da cidade mecânica anterior, representam bem uma nova weltanschauung espectacular em que o espaço praticado e vivido de cada cidade, ou alguns lugares desse espaço, se mesclam normalmente a um determinado tempo interno ou externo, estrutural ou conjuntural, de forma a constituir-se um nexo espaço-temporal capaz de proporcionar um prime time na cronogeografia regional, nacional, internacional ou mesmo mundial, que vai orientando o espectáculo do mundo e o mundo como espectáculo. A cidade pensada e praticada segundo o princípio do espectáculo implica uma mudança na política da diferença. Na cidade dominada pelo princípio do mecanismo, tal como na dominada pelo princípio do organismo, era a noção de interior e de exterior - ainda que com matizes diferenciados - que possibilitava a regulação da cidade. Os sistemas de regulação mecânico e orgânico faziam ver a cidade respectivamente pelo espaço-limite da muralha e pelos tempos de abertura e fechamento de portas, e pela proliferação de pontos de acesso higiénicos como formas de disciplinar a cidade. Num e noutro dos casos, era ainda uma política da diferença de carácter expiatório que disciplinava a cidade. No entanto, as diversas mudanças ocorridas ao longo deste século XX e que levaram a uma compressão do espaço-tempo, tornaram a concepção de periferia espaço-temporal necessária à utilização do sistema de regulação orgânico, cada vez mais difícil de estabelecer. Tornava-se então necessária uma nova política da diferença adequada a um novo paradigma socioespacial em emergência. Os sistemas urbanos mecânicos e orgânicos tinham usado estratégias de visibilidade ou de fazer ver como elementos centrais das suas políticas da diferença (as muralhas e os portões, assim como o sistema médico-policial inquisitoiral). O sistema urbano pós-industrial e pós-moderno vai tornar autónoma essa mesma estratégia de fazer ver ou de espectacularização como princípio de flexibilização em que o dentro-fora e o centro-periferia é agora gerido como espectáculo - esquecimento, palco - bastidores, associando-se a uma certa ideia de hiperrealidade de ecrã como a única realidade. É o ecrã que sai de si próprio convertendo toda a cidade em ecrã. O princípio do espectáculo constitui-se a partir da autonomização de um saber específico que, congregando os avanços do marketing, dos media e da publicidade como potenciadores de diversas artes e ciências aplicadas, origina um saber pericial comunicacional que também abrange os problemas urbanos e que pode denominar-se sistema mediático-publicitário. A sociedade moderna atinge o seu limite com a globalização, ideológica sem dúvida, mas também económica, tecnológica, cultural e política. No novo quadro global, uma determinada hierarquia rígida e linear do sistema-mundo vai-se esboroando e as regiões internacionais antes concebidas como centrais deram lugar às cidades mundiais que, numa região central ou não, passam a ter funções centrais, mesclando-se assim a centralidade e a periferia. Ao nível do quadro urbano local, por outro lado, as cidades industriais transformaram-se em metrópoles, em conurbações e em regiões urbanas polinucleadas, deixando também aí, cada vez mais, de ter sentido uma rígida diferenciação entre centro e periferia pela pluralidade e contínua portabilização dos centros num espaço urbano em contínua restruturação. De facto, no sentido em que o espaço do planeta é abrangível em segundos pela tecnologia digital, a concepção de um “exterior” ou de uma periferia em sentido absoluto é já só estratosférica. Ora, é esta deslocalização da noção de centro e de periferia que a metáfora do espectáculo utiliza, aproveitando as oportunidade cronotópicas (locais e globais), para transformar qualquer aqui e agora num palco hiperreal e espectacular que se torne centro do mundo. Cada espectáculo conseguido para um aqui e agora torna esse lugar o único e verdadeiro, durante minutos que seja, constituindo-o como lugar globalitário e transformando o resto do planeta, naquele período de tempo, em mera extensão sem sentido votada à desglobalização e ao esquecimento.

Esq. III

A espectacularização do mundo é, então, esta procura de nexos espaço-temporais específicos, de oportunidades para imprimir um prime time num lugar que o torne globalitário face à desglobalização e ao esquecimento de toda a restante extensão espacial e temporal. O mundo espectacular, baseado na homologia entre espectáculo e sociedade, torna análogos o espectáculo e a globalização por um lado, e o esquecimento e a desglobalização por outro. O Outro deixa de estar numa qualquer periferia espacial ou temporalmente definida de forma definitiva, para poder submergir numa qualquer extensão espaço-temporal que, devido a constrangimentos conjunturais, foi relegada ao esquecimento e à desglobalização face a um qualquer cronotopos que emerge como espectacular. O Outro não é já aquele entre os deuses e as coisas como no mundo pré-moderno, nem aquele entre os civilizados-saudáveis e os bárbaros-moribundos como no primeiro mundo moderno, para ser aquele que está entre a ausência de imagem e aquele que é a imagem, sendo este agora o axioma básico, já não da salvação mas da mera existência, da mera realidade. A revolução tecnológica, económica e cultural da segunda metade do século XX - com ênfase para as últimas três décadas - levou a abertura do Eu ao Outro a uma escala planetária, ao mesmo tempo que, ao redefinir a realidade em função da emergência hiperreal flexível em cronotopos, criou uma nova estrutura da diferença que põe em causa o projecto antropológico de uma comunidade humana global ao tomar o espectáculo como programa urbanístico.

Tendo em conta todo este quadro, de facto todo um programa de hiperrealidade é posto em marcha na constituição de uma cidade espectacular. Tal como na transição de paradigma no século XIX, a cidade torna-se o palco onde se sente a tensão entre um mundo baseado em pressupostos orgânicos e um mundo baseado em pressupostos espectaculares. A invasão da vida urbana, pensada e praticada, pela hiperrealidade, a portabilização das unidades temporais e espaciais, antes adstritas a posições centrais e periféricas, assim como a completa mercadorização espaço-temporal segundo uma inscrição da sequência sedução-espectáculo / consumo-resgate em todo o real, criou o medo e a fascinação em que vivemos. E é face a este medo e a esta fascinação que o sistema mediático-publicitário, sustentado por empresários e políticos, cientistas aplicados e artistas, vai instituindo um programa de espectacularização do real. É este programa que vai dar existência hiperreal e, por conseguinte, qualidade de vida, aos diversos nexos espaço-temporais onde decorre mais geralmente a vida quotidiana das pessoas sem, no entanto, esquecer a cidade definida entre centro e periferia, ou seja, a cidade orgânica. Assim, espectacularizam-se os centros históricos, ao mesmo tempo que se dá uma mediatização, digitalização, macdonaldização e condominiação da cidade. Todos os locais parecem constituir-se como potenciais nexos espaço-temporais do programa de sedução-espectáculo / consumo-resgate e é essa potencialidade que a cidade-espectáculo vai gerindo.

Esq. IV

Críticas para uma cidade melhor

Quando o espaço se torna demasiado compacto para comportar as diferenças culturais que nele existem, as cidades recorrem a imaginações mais ou menos infernais ou mais ou menos paradisíacas para reinstalar a hierarquia e a ordem social. De uma forma ou de outra, em nome da qualidade de vida de uns desqualifica-se outros e, por vezes, mesmo parte inteiras de uma cidade. A cidade mecânica, orgânica e espectacular, expiatória ou de resgate, sustentada em estratégias infernais ou paradisíacas da diferença está sempre condenada à sua própria destruição pela saturação do modelo na construção da diferença que se propunha inicialmente.

A cidade espectacular constrói a diferença em função da inserção do Eu num palco, num ecrã, enfim, num espectáculo, por oposição ao Outro que dele está ausente no esquecimento. Nesta espectacularização urbana, há cronotopos, como os da macdonaldização, essencialmente representada pelos shopping centers, e os da patrimonialização que podem realizar a espectacularização de todos. Pelo contrário, a condominiação é um dos maiores desafios na mudança de paradigma socioespacial ao constituírem-se as micro-cidades como ritual de aculturação-enculturação metropolitana ao mesmo tempo que o sistema mediático-publicitário as propõe como apartheids urbanísticos votados apenas ao espectáculo de si para si de alguns eleitos. Uma Antropologia crítica deste paradigma socioespacial e desta política da diferença, ainda que o critique como um todo, terá a obrigação de se empenhar num potenciar dos cronotopos espectaculares abertos a todos e de todos, numa profunda discordância da construção de cronotopos como espectáculo apenas de alguns e de toda e qualquer ideologia que procure constituir-se em sua defesa ou exortação.

Porque só quando o urbanismo aprender a multiculturalidade poderemos ter uma cidade melhor: uma cidade que seja um verdadeiro sistema de convivência de culturas. A verdadeira qualidade de vida só pode passar por um urbanismo de edifícios multiculturais em ruas multiculturais, em bairros multiculturais. Este urbanismo antropológico, na partilha quotidiana das diferenças é a única salvação do nosso futuro como seres urbanos.



 [PS1]


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