49 Congreso Internacional del Americanistas (ICA)

Quito Ecuador

7-11 julio 1997

 

Kleber Pinto Silva

49 CONGRESO INTERNACIONAL DE AMERICANISTAS

QUITO, ECUADOR, 07 A 11 DE JULIO DE 1997

SESIONES GENERALES - SECCIÓN MEDICINA Y SALUD

TÍTULO:

ARQUITETURA E SAÚDE EM CAMPINAS, SP, BRASIL: A FORMAÇÃO DA REDE URBANA E DE SAÚDE

AUTOR: KLEBER PINTO SILVA

Mestre em História

Professor Assistente, Departamento de Arquitetura, Campus Bauru, UNESP (Brasil)

RESUMO:

Neste estudo, pretendeu-se reconstituir o desenvolvimento urbano e regional a partir do estudo do processo de urbanização da cidade de Campinas (SP) e o estímulo por ele produzido no surgimento de municípios limítrofes. Como estratégia de análise, foi selecionado o estudo do processo de criação do sistema de saúde regional em particular.

TEXTO

ELEMENTOS DO CONCEITO DE REGIÃO

Inicialmente fazem-se necessárias algumas considerações gerais acerca do conceito de região, para que se compreenda o modo como se definiu a Região de Campinas .

O conceito de região vem sofrendo sucessivas modificações, apresentando-se como conceito flexível sujeito às variações ou alterações decorrentes das várias áreas que dele se utilizam como meio de análise de fatos geográficos. Assim, a região assume diferentes definições segundo a valoração (vegetação, clima, recursos hídricos, população, etc.) estabelecida por cada área de especialização, uma vez que é categoria de análise utilizada por diversos profissionais, tais como geógrafos, biólogos, antropólogos, sociólogos, economistas, urbanistas, entre outros.

Por outro lado, teóricos da geografia buscaram insistentemente a definição de região, imprescindível à compreensão dos fatos geográficos objeto de sua ciência. Segundo CORRÊA (1987, p. 7-8), o conceito de região altera-se segundo os diversos paradigmas e abordagens da geografia, bem como com a alteração dos métodos de apreensão da realidade. Neste sentido, segundo o citado autor, os referidos paradigmas são:

determinismo ambiental, o possibilismo, o método regional a nova geografia e a geografia crítica ; as abordagens são: o estudo da relação homem/meio, o de áreas e os locacinais. Quanto aos métodos de apreensão da realidade, destacam-se basicamente duas correntes: o positivismo, quer na sua versão clássica, quer na do positivismo lógico e o materialismo histórico e a dialética marxista, ... métodos de incorporação recente à geografia.

Antes de prosseguir é importante que se mencione que o objeto da geografia é o estudo dos diversos lugares sobre a superfície da Terra, fato este que define muito bem seu campo de estudo, já que determina objetivamente a observação necessária de processos, formas, funções e estruturas. Para completar o quadro, cita-se ainda que os estudos em geografia sempre buscaram a identificação da diferenciação das áreas da superfície terrestre, através do estudo daqueles processos, formas, funções ou estruturas, de modo combinado ou não, entre si.

Assim, deve-se a estudiosos de geografia clássica as primeiras definições de região, sempre presas a considerações de natureza formal, objetiva, relacionada a aspectos físicos do território. Estas considerações originam o conceito de região natural (determinismo ambiental, final do século XIX).

O conceito evolui para considerações de ordem funcionalista ( nova geografia, no pós segunda guerra), em que a região passa a implicar num conjunto de lugares que contém menores diferenciações internas do que, comparativamente, com outros. Estas similaridades ou diferenciações podem passar a ser verificadas estatisticamente ( objetivamente ) e é o pesquisador quem define tais categorias, segundo a seleção de variáveis de seu interesse, abrindo-se a possibilidade de definição de regiões simples ou complexas - segundo traços de homogeneidade, funcionais (econômicas, políticas, etc.), dependendo do número de variáveis de seu interesse. Deste modo, a região deixa de ser uma entidade concreta para ser uma abstração, uma categoria de análise, como meio de definir padrões que facilitariam a determinação de uma classificação hierárquica (rede de cidades, por exemplo) entre núcleos urbanos que comporiam a tal região.

Atualmente, o conceito é ainda mais amplo pois incorpora também, aspectos sociais e econômicos de população e produção, além da noção de temporalidade (história) nela implicada.

Estuda-se pois, hoje, (geografia crítica, anos setenta e oitenta) tanto as características físicas (naturais e construídas), bem como os processos históricos que os delinearam, à luz das relações sociais de produção. O estudo de tais relações implica na observação de todo o complexo de agentes (instituições, estruturas, funções, população, etc.), envolvidos na construção social da realidade. Deste modo, as estruturas físicas passam a ser encaradas como registros da produção social, procurando-se identificar a partir deles, seus processos constitutivos.

A evolução do conceito de região aqui descrito de modo sucinto demonstra o dinamismo e a amplitude de tal definição. Através desta pequena síntese, pode-se perceber claramente que o conceito de região acha-se ligado a duas vertentes. Na primeira delas que poderia ser denominada objetiva toma-se a região como um fim em si próprio. Já na segunda vertente, subjetiva , define-se região como construção mental, isto é, um modelo criado com base em métodos classificatórios. Em última análise, região consistiria em uma porção de território delimitada segundo critérios múltiplos apresentando caraterísticas próprias internas, que, simultaneamente, variam entre a homogeneidade e a heterogeneidade, encerrando um conjunto de processos diferenciados e dialéticos, a compor um todo uno e complexo.

A delimitação de uma região pode ser efetuada de duas maneiras. Uma delas, pela utilização de critérios formais e a outra por critérios substantivos . Os critérios formais implicam a adoção de limites arbitrários para o recorte do território geográfico da área de estudo, neste caso é desnecessária a vinculação às especificidades de tais áreas. As divisões com finalidade administrativa do território são exemplos de regiões com caráter formal.

No recorte territorial onde se utilizam critérios substantivos consideram-se, ao contrário das regiões formais, as características específicas intrínsecas à área de estudo. Em verdade, o recorte regional é realizado com base em uma ou mais especificidades que podem estar combinadas ou não. Como exemplo de região substantiva pode ser apresentada a delimitação territorial segundo a estratificação da produção econômica em primária, secundária e terciária.

As regiões substantivas podem, segundo PERROUX (1967, p. 143-162), ser subdivididas em:

1. Região Homogênea : aquela onde se destaca um fator de homogeneidade e continuidade na definição do território. A definição do espaço homogêneo pode ser feita segundo critérios de unidade natural (clima, relevo, vegetação, etc.), de unidade histórica, étnica ou cultural (áreas de colonização antigas, etc.), de unidade econômica (indústria, comérico, etc.). Tais unidades, definidas pelas características apresentadas, podem ser tomadas isoladamente ou combinadas entre si.

2. Região Polarizada : espaço que sofre a polarização de outro, gerando relações de interdependência estabelecidas sobre as influências exercidas entre um conjunto de pólos. Este conceito sistêmico considera hierarquicamente as relações entre tais pólos.

3. Região Operacional : também intitulada região de planejamento , consiste no espaço sujeito a intervenção de uma autoridade. Este tipo de região se presta a finalidades político-administrativas, implicando na existência de sistemas organizacionais ou simplesmente área alvo de implementação de algum plano ou programa.

ÁREA DE ESTUDO: DELIMITAÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS

A área de estudo definida, também denominada Região de Campinas , é composta pelos territórios dos municípios de Americana, Campinas, Cosmópolis, Indaiatuba, Jaguariúna, Holambra, Hortolândia, Monte-Mór, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara DOeste, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. Tais municípios formam um conjunto urbano com funções e processos sócio-econômicos internos muito semelhantes, constituindo, em verdade, um todo organicamente articulado e complementar com características que vem sendo historicamente construídas.

Para delimitação da mencionada área de estudo, partiu-se do levantamento e posterior avaliação dos desenhos regionais propostos pelos vários decretos estaduais para regionalização do Estado. Estes procedimentos foram orientados pela procura da menor unidade regional onde pudessem ser verificados processos sócio-econômicos semelhantes.

Analisando-se mais detidamente o conjunto de municípios vinculados ao território do antigo Escritório Regional de Governo de Campinas, atual Escritório Regional de Planejamento, percebe-se a existência de um grupo de municípios composto por Artur Nogueira, Mogi-Mirim, Mogi-Guaçú e Santo Antônio de Posse, que formam um sub-conjunto distinto do composto pelos municípios mais próximos a Campinas. Esta distinção tem por base a polarização exercida por Mogi-Mirim, associada ao relativo distanciamento geográfico, cerca de cinquenta quilômetros, daquela cidade com a de Campinas.

O fenômeno observado entre Mogi-Mirim e os municípios próximos também ocorre em outras áreas da extensa 5 a Região Administrativa de Campinas. Em centros urbanos como Piracicaba, Jundiaí, Rio Claro, Limeira, São João da Boa Vista e Bragança Paulista, também ocorrem processos semelhantes e constituem-se no que poderíamos denominar capitais sub-regionais. Esta denominação, bem como os processos internos de cada uma delas, não exclui a intensa relação das respectivas sub-regiões com a cidade e sub-região de Campinas. Relações estas que se ampliam à medida em que há acréscimo populacional e de produção nas referidas sub-regiões.

Ora, se todos estes centros urbanos relacionam-se entre si e todos por sua vez, em maior ou menor grau, à cidade de Campinas, porque não definir então, todo o território da 5 a Região Administrativa como objeto deste estudo?

Com base nos desenhos regionais oficiais, propostos, como se sabe, a partir de estudos sobre a polarização, considerou-se que as relações intra-regionais poderiam ser avaliadas também por seus fluxos (produto de fatores de ordem social e econômica). Tais fluxos associados a outras questões de ordem física, como distâncias e contiguidade de manchas urbanas, seriam reveladoras e importantes para a definição do território abrangido pelo objeto de estudo.

Se considerarmos os fluxos intra-regionais, tomando por base a cidade de Campinas e estabelecendo-se uma escala de frequências para os mesmos, observa-se que num grupo de municípios há troca serviços com intensidade maior que noutros. Analisando o mapa do território regional, percebe-se que boa parte destes municípios estão situados nas vizinhanças da cidade de Campinas. Considerando agora, uma relação entre o porte (número de habitantes, por exemplo) e os fluxos, por um lado e as distâncias entre os municípios, por outro, pode-se dizer que os núcleos urbanos, em um raio de trinta quilômetros de Campinas comporiam o território onde os fluxos internos seriam os mais intensos na 5 a Região Administrativa. Esta intensidade pode ser aferida também pela existência de uma mancha urbana contínua que se estende da cidade de Vinhedo, passando por Campinas e Sumaré, até a cidade de Santa Bárbara DOeste.

A mancha urbana só não é contínua em outros vetores, em virtude da existência de grandes propriedades privadas rurais ou de glebas públicas de propriedade do Estado ou da União, especialmente nas vizinhanças da cidade de Campinas. Entretanto, mesmo inexistindo a conurbação entre algumas das manchas urbanas, já são bastante fortes os laços econômicos entre os diversos municípios. Exemplificando, o pólo petroquímico implantado espontaneamente na cidade de Paulínia a partir de instalação da Replan - Refinaria do Planalto - em 1972, ampliou ainda mais os laços do município em questão com as cidades vizinhas a qual encontra-se ligada por rodovias, como Campinas, Sumaré e Cosmópolis. Assim, parte dos empregados do referido pólo reside nestas cidades, parte dos escritórios administrativos das indústrias situam-se em Campinas e boa parcela da população residente em Paulínia utiliza-se do comércio e dos serviços de Campinas.

Os laços entre as cidades de Campinas e Paulínia são bastante antigos e e basta dizer que Paulínia pertencia a um cinturão de localidades com economia baseada na produção de artigos do campo que abastecia a cidade de Campinas e ainda, que o município de Paulínia foi criado a partir do desmembramento de uma parcela do território do município de Campinas. Com a implantação da Replan estes laços passaram por uma modificação qualitativa, sendo aprofundados ainda mais.

Considerando a questão dos fluxos inter-cidades na região estudada, destaca-se o complexo de serviços de saúde. Observando o conjunto de núcleos urbanos percebe-se que historicamente a cidade de Campinas adquiriu o papel de centro polarizador, detendo os maiores e mais especializados serviços de saúde da região, tanto públicos como privados, para todo tipo de cuidados (desde o ambulatorial ao hospitalar), atendendo às populações de todas as localidades. Semelhantes características também são encontradas em outros setores, tais como na educação, transportes e lazer, colaborando para intensificar os fluxos, bem como para tornar tal grupo de núcleos urbanos parte de um complexo uno (rede) centralizado por Campinas.

CAMPINAS, CAPITAL REGIONAL

Campinas originou-se após a primeira metade do século XVIII, nas proximidades do antigo pouso de tropeiros. Assim como Jundiaí, já então com certa atividade comercial, Campinas situava-se às margens do antigo caminho que conduzia às minas de Goiás. Durante longo período, até o final do século XVIII, esta região desempenhava o papel de divisor entre as áreas povoadas e não povoadas do centro-norte paulista.

Durante décadas a cidade possuiu parcas atividades econômicas, sendo que a fundamental era o suprimento de gêneros excedentes da reduzida produção agrícola de subsistência para as tropas que circulavam pelo Caminho dos Guaiases. Além desta atividade havia outra que era o pequeno comércio de bens, destinado a suprir o reduzido mercado urbano1 de então fornecendo-os também para os povoados existentes na região.

Sintetizando o processo de povoamento da área, temos: o surgimento da trilha que deu origem ao Caminho dos Guaiases, na época do bandeirismo (séc. XVII), que partindo de São Paulo definiu o grande eixo de penetração em direção ao interior do país, rumo a Goiás. Aos poucos, tal eixo torna-se o indutor da ocupação de toda área adjacente a seu percurso. Posteriormente ocorrem alguns fatos que ampliam o caráter indutor daquele eixo.

À medida que se intensifica a exploração das minas de Goiás, amplia-se também nesta área a demanda por gêneros de consumo da época, graças ao fato de ser a mineração atividade única, que depende totalmente do abastecimento de gêneros produzidos fora das áreas de exploração.

A despeito do fornecimento de bens estar praticamente nas mãos de comerciantes portuguêses sediados no Rio de Janeiro, as minas dependiam de gêneros produzidos internamente, beneficiando assim extensas áreas produtoras também de São Paulo. Consolida-se assim o Caminho dos Guaiases como rota de penetração, de comércio (com fluxo permanente de tropas), e também como eixo de atração de população.

É interessante observar que algumas das vilas do período, mesmo em proporções reduzidas, tinham as características mais tarde ampliadas, de centros de troca, graças à conformação da rede de caminhos. Evidentemente, também esta rede foi estruturada segundo o conjunto de processos sociais, econômicos e políticos dos diversos momentos históricos. É importante frisar que o desenvolvimento da rede de caminhos é precedido pela ocupação e produção de novas terras, fato este impulsionador da urbanização e da consolidação dos núcleos urbanos, em razão do surgimento de pequenos comerciantes e prestadores de serviços sediados nas cidades. Por outro lado, com a economia local já constituída, faz ampliar o papel indutor da rede de transportes, através dos núcleos urbanos, à medida em que colabora com a centralização do comércio e de serviços nos núcleos urbanos, auxiliando na consolidação e no desenvolvimento futuro dos mesmos.

Voltemos ao caso de Campinas. À medida em que tais processos tomavam seu curso, afigurava-se pouco a pouco na região um conjunto de alterações que não só marcariam a vida, como definiriam o futuro da localidade e de toda a região.

Quando a produção de cana e de açúcar toma o território em que se situava a vila, ao final do século XVIII e especialmente no início do século XIX, encontra uma cidade dotada de uma estrutura urbana com funções e equipamentos minimamente delineados. Entretanto, a cidade somente assumirá um porte significativo, em relação ao conjunto de cidades da então Província de São Paulo, à medida que a produção de açúcar aumenta, até tornar Campinas a capital paulista do produto (final da década de trinta do século XIX), ampliando-se assim sua função de centro regional de trocas, também possibilitada pela pré-existência da rede de caminhos implantada desde o período do estabelecimento do Caminho para Goiás e suas ramificações regionais, agora transformado em rota de circulação de açúcar. Tais fatos transformaram, precocemente, Campinas em uma localidade central . No entanto, esta peculiaridade consolidar-se-á, em bases definitivas, somente com a implantação do sistema ferroviário na última metade do século XIX, com base na expansão da produção cafeeira.

Esta posição de centralidade rebate-se em suas feições, pois, por um lado, por volta de 1840 a área urbanizada amplia-se tomando quase todo o atual centro da cidade, por outro, as funções urbanas passam por um processo de ampliação, mantendo-a à frente, em importância e porte, em relação às localidades da rede urbana paulista. Neste sentido, menciona-se a implantação das primeiras unidades fabris na cidade de Campinas, em finais de 1850, como a fábrica de chapéus Bierrenbach e a Fundição Faber. Nesses anos, ainda predominava o cultivo de cana-de-açúcar. Porém, a produção de café expandia-se. Também nos mesmo anos ocorre o apogeu da produção açucareira, quando o cultivo da cana já havia se espalhado ao norte de Campinas (Mogi-Guaçú), a produção de café se consolidava.

O café representou para Campinas, assim como para o Estado de São Paulo, um de seus grandes momentos, onde todo um conjunto de novas atividades e funções passam a ser desenvolvidas. A cidade cresce rapidamente, disputando com São Paulo a primazia entre as cidades do Estado. Antigos proprietários rurais enriquecem, outros surgem, acumulando rapidamente grande volume de capital. Como o mercado para o produto permanecia propício, rapidamente toda a região é tomada pelo cafeeiro.

Graças ao grande volume de capital disponível, oriundo dos lucros auferidos pela venda e beneficiamento do café, parte do excedente passa a ser investido na própria produção agrícola ou setores a ela relacionados como as companhias de imigração. Também em serviços de melhorias urbanas (infra-estrutura, embelezamento, etc.) e em outros ramos industriais, ligados ou não ao café, como maquinário para beneficiamento, implementos agrícolas, manufaturas diversas, etc..

A animação proveniente da nova forma de produção, agora nitidamente capitalista, reflete-se nas cidades através de novos modos de vida. Especialmente por criar um mercado urbano, de consumo de produtos industriais, propiciando o início de uma produção que aos poucos passa a industrial (século XX), como também pela formação de mercado urbano de trabalho.

A Campinas do século XIX, especialmente nas três últimas décadas, passa por uma fase contínua de crescimento. Neste período surgem na cidade e também em algumas das cidades da região inúmeras companhias de serviços públicos (iluminação a gás em 1875 e elétrica em 1886; bondes, telefones em 1884). A prefeitura, às custas da arrecadação propiciada pelo café, também apoiada financeiramente pelo Estado, como meio de debelar as epidemias de febre amarela, investe pesadamente em obras de saneamento na última década do século, tendo início a construção da rede pública de água e esgoto; e o embelezamento urbano com a abertura e pavimentação de ruas, praças e outros logradouros públicos.

Sede de uma rica aristocracia rural, originária do antigo ciclo do açúcar e residente em Campinas e não mais nas antigas fazendas, como outrora, fazem trazer para a cidade um conjunto de atividades culturais, além de escolas, casas de saúde e outros estabelecimentos congêneres, ampliando grandemente o caráter polarizador de Campinas. O surgimento do primeiro estabelecimento destinado a cuidados com a saúde, a Santa Casa de Misericórdia, data de 1876.

Ainda no século XIX, foram criados hospitais ou asilos para o isolamento de pobres portadores de moléstias contagiosas, todos desativados posteriormente. Em 1863 é criado pela Câmara Municipal o Asilo de Morféticos, que em 1878 transfere-se para novas instalações. Durante as epidemias de varíola, em 1874, é criado uma hospital especializado que será fechado após o fim das epidemias. Em 1879 é inaugurado o hospital da Sociedade Portuguêsa de Beneficência, criado para atender a colônia lusa residente na cidade. Nos mesmos moldes, inaugura-se em 1886 o hospital do Circolo Italiani Uniti, atual Casa de Saúde. Em 1864 é criado o único estabelecimento estatal (estadual) de então, para assistência à saúde, o Centro de Saúde de Campinas. Ainda na década de 80, é criado e mantido pelo Estado o Hospital do Isolamento, para abrigar as vítimas da febre amarela. Este estabelecimento será fechado em 1898.

Vê-se, com base em tais fatos, que a cidade de Campinas, ao final do século XIX contava com inúmeros estabelecimentos de atenção à saúde. A existência destes estabelecimentos a colocava, desde cedo, como polarizadora também do setor saúde e de assistência social, mesmo que tais serviços fossem prestados, em sua maioria, por entidades privadas. Assim, desde cedo, as populações das cidades vizinhas deslocavam-se para Campinas em busca de seus serviços.

Estes deslocamentos eram facilitados pela organização do sistema de transportes que fazia de Campinas ponto de passagem obrigatória tanto da população como de produtos de/para uma extensa rede urbana. À época Campinas já possuía um grande conjunto de estabelecimentos prestadores dos mais variados serviços e de um centro comercial de peso, além de sediar algumas manufaturas de tecidos, de máquinas e outras.

Com a organização de duas companhias ferroviárias locais, a Cia. Paulista (estação inaugurada em 1872) e a Mogiana, criadas inicialmente para escoar a produção de café para o porto de Santos, Campinas passa por novo processo de animação. Grande quantidade de operários empregados na construção das linhas transfere-se para a cidade. Este contingente mais tarde será substituído pelos trabalhadores empregados na operação das linhas. As companhias constróem bairros inteiros destinados a abrigar esta nova população, como a Vila Industrial. Inaugurada a estação, então distante do núcleo central, cria-se novo vetor de expansão da cidade. Amplia-se a área do centro comercial e também residencial. Nas proximidades do terminal ferroviário instalam-se também as primeiras industrias, inúmeros armazéns e uma série de oficinas para dar suporte à manutenção de equipamentos ferroviários.

Todas estas atividades eram realizadas por pessoal assalariado, dependendo inteiramente do consumo a sua subsistência. Consolida-se um grande mercado urbano de trabalho e de consumo.

Deste modo, consolida-se definitivamente o papel de Campinas como grande centro regional, por ela obrigatoriamente passando toda a produção de vasta região do Estado, tonando-se assim, também, ainda mais atrativa para os imigrantes.

Interessante observar que o traçado das ferrovias seguiu em linhas gerais, o percurso das antigas estradas de tropas que desenvolveram-se através da retificação de traçado dos velhos caminhos abertos pelas bandeiras exploratórias do século XVII. É importante ainda observar a existência de uma extensa malha capilar , de caráter complementar, formada por caminhos abertos com a finalidade de escoar a produção, ligando as várias fazendas a pequenos núcleos urbanos e estes, por sua vez, a Campinas, onde localizava-se o terminal ferroviário principal da região.

É importante salientar que toda a animação por que passou a Campinas no final do século XIX foi interrompida por epidemias sucessivas de febre amarela (1888 a 1892). Neste momento a economia local passou por um período de desorganização e esvaziamento. A população local foi reduzida abruptamente, dos cerca de 30.000 para 5.000 habitantes. Muitos dos moradores mudaram-se para cidades próximas. Inicia-se então, na cidade, um amplo e extenso trabalho sanitário sob os auspícios da municipalidade e do governo estadual. Entretanto, o crescimento da população urbana, bem como uma nova fase de expansão econômica, somente seria retomada nos primeiros anos do século XX.

O SÉCULO XX E A INDUSTRIALIZAÇÃO

Na Campinas do início do século XX existia um embrião de pólo industrial, implantado para suprir pequena parcela dos gêneros necessitados na época, tais como os alimentícios, os tecidos e algum maquinário, entre outros. Tal parque industrial, se assim podemos intitulá-lo, surgiu concomitante ao pequeno surto de industrialização do Brasil, iniciado ao final do Império e aprofundado na República, sobretudo a partir de meados de 1920 e, lembre-se, coexistindo ainda com a economia cafeeira.

Esta situação perdura até os anos 30 e 40 quando se experimenta novo impulso à industrialização, desta vez já dissociado do complexo cafeeiro. Ainda dirigido em grande maioria a bens de consumo e parcialmente a bens intermediários. Neste momento, o processo de industrialização da cidade de Campinas e de alguns dos outros núcleos urbanos da região tem novo alento, tornando complexo o panorama destas localidades.

Antes mesmo de Campinas transformar-se em localidade industrial, já exercia, porém, as funções de centro regional, polarizando boa parte dos serviços e do comércio das cidades da região, funções estas plenamente desenvolvidas nos primeiros anos do século XX.

Em tal período é elaborado, por encomenda da Prefeitura Municipal de Campinas um plano urbanístico para a cidade, sob a responsabilidade do urbanista Prestes Maia, imbuído do intuito de prepará-la para os tempos vindouros. Esta não foi a primeira iniciativa com o objetivo explícito de planificar a cidade. Antes deste, houve outro plano, desta feita elaborado pelo Eng o Saturnino de Brito ao final do século XIX, objetivando dotar a cidade de infra-estrutura de saneamento básico, como meio de afastar a sucessão de epidemias de febre amarela que assolavam o município.

Em suma, pode-se dizer que o desenvolvimento capitalista da região, como desdobramento do processo nacional, teve quatro fases. A primeira, até finais do século XIX, com o apogeu da economia cafeeira. Neste primeiro momento, a cidade de Campinas consolida-se como centro regional, com base no desenvolvimento de uma complexa rede de serviços e de infra-estrutura urbana e como mercado de mão-de-obra urbana. Ao mesmo tempo, a cidade de São Paulo transforma-se no centro propulsor da economia brasileira.

Na segunda fase, da última década do século XIX até a década de 30, o ritmo de crescimento de Campinas, a despeito de contínuo e intenso, torna-se menor que o da cidade de São Paulo. Este é o período em que São Paulo consolida-se definitivamente como o centro hegemônico do desenvolvimento industrial do País, hegemonia ou polarização estas, exercida também, e com grande intensidade, sobre todos os antigos centro regionais do interior paulista. Apesar dessa hegemonia paulistana, Campinas também se firma como o maior e mais importante dos centros regionais paulistas, com base em seu parque industrial e em seu setor de comércio e serviços.

Dos anos 30 aos anos 50 o processo acima descrito tem continuidade, tanto para Campinas como para São Paulo. Campinas, torna-se, porém, ao longo do referido período, um município de vida econômica predominantemente urbana e industrial. Colocando-se e mantendo-se a partir deste momento entre as maiores e mais industrializadas cidade do Estado. Como exemplo, pode-se citar a implantação em Campinas e nos municípios vizinhos, sobretudo durante as décadas de 40 e 50, de grande número de estabelecimentos industriais multinacionais, como a IBM, Bendix, 3M, Eletrometal, entre outras. Do lado da iniciativa governamental, citam-se a inauguração da Via Anhanguera em 1948 e a construção do Aeroporto de Viracopos, nos anos 50.

Nos anos seguintes os processos locais, reforçados e ampliados por iniciativas e incentivos governamentais de diversos tipos (municipais, estaduais e federais), tais como isenção de impostos, melhorias no sistema de transportes e de comunicação, farão Campinas assumir, pouco a pouco, o segundo posto (alcançado nos anos 70 e mantido a seguir) na atividade industrial do Estado.

A FORMAÇÃO DA REGIÃO

Toda a Região de Campinas foi povoada por impulsos, como foi visto, gerados a partir do movimento de incorporação de terras para ampliação, inicialmente, da produção de cana e em seguida do café. Desde o primeiro dos ciclos (cana de açúcar), Campinas se firmou como a maior produtora da Província, sendo de ocupação mais antiga, tem todo o seu território ocupado por grandes e inúmeras fazendas.

Com base nos requisitos de cada uma das formas produtivas (e de capitalização das mesmas), criam-se um conjunto de pequenos povoados, surgidos, naturalmente ou por iniciativa institucional), muitos deles dentro das próprias fazendas (Pedreira, Monte-Mór, Sumaré) ou delas desmembradas (Cosmóplis, Jaguariúna, Nova Odessa).

Destes núcleos, alguns eram pontos de parada obrigatória de tropas, como Vinhedo e Indaiatuba, assim como a própria Campinas; outros, eram simples povoações pré-existentes, dinamizados pela implantação de estações ferroviárias, como Americana, Santa bárbara DOeste, Valinhos e Paulínia.

Em suma, a partir da existência prévia de povoações e de ampliação e adensamento produtivo das áreas rurais, consequentemente populacional, em função dos diversos movimentos da economia, surge e desenvolve-se o conjunto de núcleos urbanos acima mencionado. Tais fatos explicitam a polarização exercida precocemente por Campinas.

Outro aspecto importante, também relacionado com o complexo produtivo, é a vinculação entre os movimentos econômicos, seus adensamentos, os sistemas de transportes e os desmembramentos de municípios.

Iniciando-se por Campinas, a cidade, como se viu, foi criada nas últimas décadas do século XVIII, com termo desmembrado do território da Vila de Jundiaí, ao longo do caminho que ligava a cidade de São Paulo a Goiás, como parte do movimento de expansão dos domínios da Colônia baseada na ocupação produtiva de novas terras para a produção, tendo início a produção de cana de açúcar.

De meados do século XIX até a década de 50 do mesmo século, tal produção tem seu apogeu. Concomitantemente chega o café e desponta como uma das maiores culturas, suplantando a da cana, logo a seguir, entre os anos 60 e 90 do mesmo século.

Da segunda metade do século XIX em diante, evidenciando o adensamento produtivo e populacional propiciado pela produção cafeeira, tem início a criação de novos municípios na Região, ao longo de antigas rotas de penetração. Indaiatuba, no caminho do açúcar que liga Campinas a Itú; Monte-Mór, também no caminho do açúcar, ligando a Capivari; Santa Bárbara DOeste, no de Piracicaba, do mesmo modo ligada ao caminho do açúcar; Pedreira, no de Amparo, ligado ao café.

Novos movimentos são registrados durante o século XX. Americana, antigo distrito, desmembra-se de Campinas na década de 20, como decorrência de impulsos dinâmicos gerados pela extensão da ferrovia que partia de Campinas (por volta de 1875), da agricultura local (algodão) e da implantação industrial (tecelagem Carioba, também do final do século XIX). Nos anos quarenta, são criados: Jaguariúna, desmembrado de Mogi-Mirim e fundada ao longo da Mogiana; Cosmópolis, criado como núcleo de imigrantes na Funilense, ferrovia que o ligava a Campinas; e Vinhedo, desmembrado de Jundiaí, agora com a sede transferida para as cercanias da estação da Cia. Paulista. Neste período, apesar de Campinas e algumas outras cidades da região como Jundiaí, Limeira e Piracicaba, viverem sob forte industrialização, as nova cidades surgidas tinham a economia ainda predominantemente agrícola. Nos anos 50 e 60, novos desmembramentos ocorrem. Sumaré e Valinhos, desmembrados de Campinas; Nova Odessa, desmembrado de Americana durante a década de 50; e Paulínia, de Campinas, em 1964. Mais recentemente, em 1991 desmembra-se Hortolândia, de Sumaré; e Holambra, de Jaguariúna e Cosmópolis.

Observando atentamente o crescimento industrial da Região de Campinas, poderíamos subdividi-lo em dois períodos. Até os anos 30, a maior parte dos impulsos industrializantes são absorvidos pela cidade de Campinas, quando ela se firma como localidade central da região e de grande área do interior do Estado. A partir dos anos 40, e sobretudo 50, tais estímulos continuarão a ser absorvidos por Campinas; entretanto já despontarão novos centros industriais na região: Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Nova Odessa, Americana, Santa bárbara DOeste e Indaiatuba, agora ao longo do eixo estabelecido pela Via Anhanguera2, em virtude do tipo de estabelecimento, ou seja, a grande indústria, que tem necessidade de implantação em glebas maiores.

Nos anos 60 e 70 incorporar-se-ão ao rol de localidades industrializadas, as demais cidades, Paulínia, Cosmópolis, Jaguariúna e Monte-Mór.

Lembre-se que a cada novo estímulo industrializante, as localidades de implantação industrial mais antiga passavam por novo adensamento e ampliação de seus parques. Tais estímulos, entretanto, não significam apenas crescimento no número de estabelecimentos industriais. Significam também que a cidade amplia também os demais setores (comércio e serviços), para fazer frente ao consequente aporte populacional.

O crescimento populacional das três últimas décadas, devido ao complexo de fatores anteriormente mencionados, colaborou para congestionar boa parte dos serviços das cidades em questão, mesmo porque em muitas das localidades privilegiou-se o incentivo à base produtiva industrial, sem dar o devido suporte aos serviços urbanos, em detrimento do bem estar da população. Inúmeras obras foram realizadas, mas sempre privilegiando-se a infra-estrutura para atendimento da expansão econômica.

As cidades passaram a conviver com diversos problemas de ordem social - favelização, falta de diversos equipamentos e serviços urbanos, além de outros mais relacionados com o excesso de fluxos gerados pelo acúmulo de funções produtivas, com reflexo nos sistemas de transportes super-lotados e em número insuficiente, com problemas de ordem ambiental e do sistema viário urbano e inter-urbano congestionado.

Até a década de 60, boa parte do acréscimo populacional concentrava-se em Campinas, ao passo que nas décadas seguintes, vários dos núcleos urbanos (Paulínia e Sumaré nos anos 70; Indaiatuba, Santa Bárbara DOeste nos anos 80) apresentam taxas de crescimento superiores às de Campinas.

VETORES DE CIRCULAÇÃO E CONTINUIDADE DA MANCHA URBANA

Pela Figura acima observa-se claramente que o processo de conurbação em curso em curso na Região tem alguns vetores principais, seguindo-se, em linhas gerais os atuais eixos rodoviários.

Conforme o mencionado anteriormente, a implantação industrial da década de 50 e nos anos seguintes, também acompanhou os mesmo eixos rodoviários. O primeiro deles, inclusive pela antiguidade, no sentido SE-NO, é conformado atualmente pelas Vias Anhanguera e dos Bandeirantes.

Este eixo surgiu no século XVIII para escoamento da produção açucareira regional, como vimos. No século seguinte implanta-se a Cia. Paulista de Estradas de Ferro, seguindo paralelamente o antigo caminho de tropas. Em torno de várias das estações em operação ao longo da linha férrea é estimulada a urbanização dos núcleos já existentes (Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Nova Odessa e Americana). Nos anos 20 e 30 é asfaltado o antigo caminho de tropas (Estrada Velha Campinas-São Paulo, que cortava as áreas centrais das diversas localidades; tal rodovia é hoje utilizada para as ligações locais, de caráter urbano e inter municípios da região, como Campinas-Valinhos, Valinhos-Vinhedo, etc.). Observe-se na Figura , que uma das áreas mais adensadas da Região está ao longo deste eixo.

Na década de 40 é construída a Via Anhanguera, desafogando o tráfego nas áreas urbanizadas e permitindo ligação facilitada entre São Paulo e o interior. Constróem-se vários acessos ligando as diversas cidades à nova rodovia (novo eixo indutor da urbanização e implantação industrial).

Processo idêntico ocorre no sentido noroeste do mesmo eixo (Campinas-Americana), onde observa-se o processo de conurbação de Campinas a Santa Bárbara DOeste.

Em meados dos anos 80, inaugura-se a Via dos Bandeirantes, construída também para desafogar o tráfego regional, destinado ao interior e a outros Estados. Com esta nova alternativa, a antiga Via Anhanguera também adquire o caráter de via de ligação intra regional.

O segundo eixo, sentido SO-NE, é o constituído pela rodovia Santos Dumont (Campinas-Sorocaba), que corta o município de Indaiatuba, oriundo, também de caminho de tropas e mais tarde consolidado pela ferrovia (ramal da antiga Sorocabana). O desenvolvimento deste eixo é recente, dinamizado a partir da implantação do Distrito Industrial de Campinas (anos 70) e da industrialização recente de Indaiatuba. O terceiro eixo, também no sentido SO-NE, paralelo ao anterior, é formado pela rodovia Campinas-Capivari (rota do açúcar), passando por Monte-Mór, que adquire condição de vetor já na década de 50, com a implantação de grandes indústrias, inclusive a Bosch. O parque industrial situado neste vetor passa por novas ampliações: nos anos 70, restrita ao antigo distrito de Sumaré, hoje município de Hortolândia, e mais recentemente, pela incorporação de novas áreas, agora no município de Monte-Mór. Por volta de 1987 ambas as rodovias são duplicadas.

O quarto eixo, formado pela rodovia Campinas-Paulínia-Replan-Cosmópolis, formou-se paralelamente à antiga Funilense, ferrovia local, que ligava as mesmas localidades no início do século. Tal eixo é consolidado nos anos 70, pois até então as localidades que cortava tinham caráter rural, consolidação que se deu após a implantação da Replan - Refinaria do Planalto, no município de Paulínia, e do pólo petroquímico que se seguiu. Esta ligação foi também duplicada nos anos 80. Apesar da intensa urbanização daquela década, o processo de conurbação entre as localidades ainda é tênue.

No sentido S-N, o quinto dos eixos é formado pela rodovia Campinas-Mogi Mirim, construída com o traçado que evitava cruzar as áreas urbanizadas, como alternativa de tráfego à antiga ligação que margeava a ferrovia Mogiana (século XIX), passava pela cidade de Jaguariúna, dando acesso ao ramal de Amparo, que por sua vez cortava a cidade de Pedreira, na mesma ferrovia. Neste eixo a urbanização também é tênue, pois o desenvolvimento industrial nas localidades (exceto Mogi-Mirim e Mogi-Guaçú) não é tão expressivo. No caso da cidade de Jaguariúna, apenas a partir de meados dos anos oitenta é que tem início o desenvolvimento industrial, estimulado inclusive pela duplicação da referida rodovia. De Jaguariúna parte uma rodovia que a liga a Pedreira, e esta a Amparo.

Por fim, o sexto e último eixo foi constituído ao longo da antiga ligação entre Americana, Santa Bárbara D Oeste e Piracicaba, hoje ligação urbana, sendo que a antiga rodovia construída para afastar o tráfego das áreas urbanas também passou por duplicação por volta de 1985. Como observamos na Figura , a ligação das manchas urbanas entre os dois municípios está consumada.

Saliente-se ainda, a existência de uma rede de estradas vicinais, de caráter local, ligando vários municípios entre si, permitindo ir de um a outro, sem a obrigatoriedade da passagem por Campinas, como as de Monte-Mór- Indaiatuba, Vinhedo-Viracopos, Paulínia-Hortolândia.

Além das rodovias mencionadas, há ainda a rodovia D. Pedro I, construída em meados da década de setenta com o objetivo de ligar a rodovia Anhanguera (Campinas) à Dutra (Jacareí), sendo que esta rodovia foi duplicada no final dos anos oitenta. Somente nos últimos anos suas áreas adjacentes vêm sendo urbanizadas, especialmente no trecho denominado anel viário de Campinas, no território da referida cidade. Esta área tem sido a preferida para implantação de estabelecimentos comerciais e de serviços de grande porte, suprindo demandas regionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Da totalidade dos fatos expostos até agora, depreende-se que:

1. A Região de Campinas é composta por um conjunto de cidades funcionalmente interligadas entre si. Esta ligação funcional não se dá apenas no sentido das cidades menores com a capital regional, mas também em sentido inverso e também entre estas localidades de menor por porte. Isto faz com que o conceito de cidades-dormitório não seja aplicável à região.

2. A Região de Campinas não surge nos recentes anos 70. Nesse período ocorre o adensamento produtivo e urbano intra e inter cidades, produzindo as primeiras conurbações entre manchas urbanas.

3. A formação da Região de Campinas é um processo histórico perpassado e definido por diversos momentos, tributários da forma de ocupação exploração produtiva do território estadual, os ciclos de produção agrícola: açúcar e café.

4. A estruturação e consolidação da rede viária (inicialmente com os caminhos para tropas, mais tarde com as ferrovias e finalmente com as rodovias) propicia o desenvolvimento de Campinas como importante centro de trocas, já esboçando uma de suas características contemporâneas fundamentais: capital regional.

5. A criação de novos municípios evidência o adensamento produtivo regional, reforçando o papel polarizador da cidade de Campinas.

6. A economia cafeeira e o sistema ferroviário consolidam definitivamente Campinas como centro de trocas regional e, simultaneamente, estabelece as bases da cidade moderna, industrial, do século XX.

7. Com a economia urbana, a partir do capital cafeeiro, funda-se o setor serviços: surgem os primeiros estabelecimentos de saúde, já de alcance regional.

8. Século XX: mercado urbano amplia-se novamente, intensifica industrialização, amplia-se também a rede de saúde.

9. Anos 50: explosão industrial e populacional: assistência continua curativa e individual. Predomínio de estabelecimentos hospitalares privados, conveniados aos Institutos e Caixas previdenciárias. O sistema público é quantitativamente reduzido.

10. Somente ao final dos anos 70 a saúde passa a ser abordada como prevenção e asssitência coletiva . Coexistem ambas as modalidades, o sistema público passa a se expandir.

11. Sistema de Saúde é regional:

- Campinas como a maior cidade da região, deteve no passado e continua a deter no presente os serviços mais especializados e renomados, tanto ao nível do público como do privado.

- Ampliação das cidades diminui distâncias, facilitando os deslocamentos intermunicipais em direção a Campinas..

12. O desenho da rede viária regional intensifica a polarização exercida por Campinas, formando eixos com origem e/ou destino na capital regional.

NOTAS

1. Tal restrição concretizava-se, em razão da produção do período ser predominantemente de subsistência, realizada quase em sua totalidade dentro dos limites de cada uma das fazendas, o que as tornava auto-suficientes. No caso da reduzida população urbana, as características das moradias (grandes áreas dos lotes) demonstram a referida auto-suficiência.

2. Lembre-se que a partir dos anos 50 o país passa por uma verdadeira febre rodoviária, com base nos grandes incentivos e papel outorgados à indústria automobilística. os governos federal e estadual empreenderão grandes esforços na pavimentação e construção de novas rodovias. Este também é o período onde tem início os incentivos à implantação da indústria pesada, de base, tanto de multinacionais como de estatais do setor. Tal processo será ainda mais intenso nos anos 70.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORRÊA, Roberto L. A.. Região e organização espacial . São Paulo: Ática, 1987.

PERROUX, François.. A economia do século XX . Lisboa: Morais, 1967.

BIBLIOGRAFIA

BADARÓ, Ricardo de Souza Campos. O plano de melhoramentos urbanos de Campinas (1934-1962) . Dissertação (Mestrado em Arquitetura). - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1986

BIRKHOLZ, Lauro B.. Metodologia básica do planejamento . São Paulo: Laboratório de Artes Gráficas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1979. (mimeo).

BRITO, Jolumá. História da cidade de Paulínia . Paulínia: Prefeitura Municipal, 1972. 3 v.

BRUNA, Gilda C. (Org.). Questões de organização do espaço regional . São Paulo: Nobel; São Paulo: Edusp, 1983.

______________. Tipos de regiões, organização interna e relações externas no planejamento regional . São Paulo: Laboratório de Artes Gráficas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1974. (mimeo).

BRYAN, Abílio Serra. Americana de Ontem: história de Americana . [S.l. : s.n.]. [19--].

CORRÊA, Roberto L. A. (coord.). Regiões de influência das cidades . Rio de Janeiro: I.B.G.E., D.G.C., 1987

CANO, Wilson. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil: 1930-1970 . São Paulo: Global; Campinas; Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1985.

____________. Raízes da concentração industrial em São Paulo . 2.ed. São Paulo: T. A. Queiróz, 1983

GODÓI, Silvino. A indústria em Campinas . In: MONOGRAFIA HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil . 2.ed. São Paulo, Alfa-Omega, 1975.

MARIANO, Júlio. Condução e transportes . In: MONOGRAFIA HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

______________. Crônica de iluminação em Campinas . In: MONOGRAFIA HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

______________. Grandes estabelecimentos hospitalares de Campinas, ligados a instituições diversas . In: MONOGRAFIA HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo . São Paulo: Hucitec; São Paulo: Polis, 1984.

NOVA ODESSA. Prefeitura Municipal. Monografia de Nova Odessa . Nova Odessa: Prefeitura Municipal, 1968.

PAULA, Carlos F. de. Assistência pública . In: MONOGRAFIA HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

PEREIRA, Wlademir. Campinas na atualidade . In: MONOGRAFIA HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

PETRONE, Maria Thereza Schorer. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851) . São Paulo: DIFEL, 1968.

PERROUX, François. A economia do século XX . Lisboa: Morais, 1967.

PUPO, Celso Maria de Mello. Campinas, seu berço e juventude . Campinas: Academia Campinense de Letras, 1969.

SAES, Flávio Azevedo Marques de. As ferrovias de São Paulo, 1870-1940 . São Paulo: Hucitec; Brasília: INL, 1981

_______________________________. A grande empresa de serviços públicos na economia cafeeira 1850-1930 . São Paulo: Hucitec, 1986.

SEMEGHINI, Ulysses Cidade. Campinas (1860 a 1980): agricultura, industrialização e urbanização . Dissertação (Mestrado em Economia) - Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, 1988.

SILVA, Kleber P.. A cidade, uma região, o sistema de saúde . Campinas: UNICAMP, CMU, 1996.

______________. Urbanização e sistema de saúde na região de Campinas . Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1993.

SUMARÉ. Prefeitura Municipal. Divisão do Cerimonial. Histórico do município de Sumaré . Sumaré: Prefeitura Municipal, 1990.


Buscar en esta seccion :