II Encuentro Nacional "La Universidad como Objeto de Investigación"

Centro de Estudios Avanzados (CEA - Universidad de Buenos Aires -UBA)

Noviembre 1997

Ponencias publicadas por el Equipo NAyA
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info@equiponaya.com.ar
SEGUNDO ENCONTRO NACIONAL: A Universidade como Objeto de Investigaçâo.

Universidade de Buenos Aires - 26 / 27 / 28 de novembro de 1997 ârea Temática 3. Pedagogia Universitária / Problemas e questões do ensino por disciplina.

Título:

UM PROGRAMA DE PESQUISA & ENSINO COMO UMA ALTERNATIVA DE LEITURA SOBRE O UNIVERSOS EDUCACIONAL

Autora: Dr¦.Lizia Helena Nagel

Docente da Universidade Estadual de Maringá,

Professora Titular de Fundamentos da Educaçâo, no Curso de Mestrado em Educaçâo.

Endereço Residencial: Travessa Sabaudia, 43 - Cep.: 87.050- 650 - Maringá - Paraná - Brasil.

Fone: (044) 222.8700 -

RESUMO

O Programa de Pesquisa - Revendo a História da Educaçâo: A Educaçâo que (Des) Conhecemos - é integrado ao ensino da disciplina Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educaçâo I, do Mestrado em Educaçâo, da Universidade Estadual de Maringá.

Buscando fontes nâo-convencionais para compreensâo dos processos educativos de épocas definidas, problematizando questões até entâo desconsideradas por uma historiografia educacional, excessivamente pautada por uma preocupaçâo com o singular, a experiência volta-se para as formas de conhecer o real, assinalando a necessidade de produçâo de textos alternativos que se proponham a ter o ser social, como elemento fundante dos processos educativos.

UM PROGRAMA DE PESQUISA & ENSINO COMO UMA ALTERNATIVA DE LEITURA SOBRE O UNIVERSO EDUCACIONAL

Lizia Helena Nagel1

1- Um Programa de Pesquisa & Ensino

O Programa de Pesquisa Revendo a História da Educaçâo nasce, de fato, em 1991, dentro do Mestrado em Educaçâo da Universidade Estadual de Maringá, cuja estrutura advoga o princípio da necessidade das pesquisas serem intimamente relacionadas às disciplinas do currículo. Nesta perspectiva, os conteúdos elencados nos diversos planos de ensino devem estar associados aos trabalhos de investigaçâo dos professores. A uniâo efetiva de pesquisa & ensino é garantida neste Curso, nâo apenas por considerações teóricas, mas por exigências do Regulamento.

Por outro lado, a grade curricular do Mestrado em Educaçâo, que inclui a descriçâo das ementas dos planos de ensino - quando elaborada pela equipe responsável - baseou- se em uma prévia avaliaçâo dos principais problemas da educaçâo contemporânea, entendidos como estreitamente ligados à forma de conhecer o real. Forma essa de conhecer que, ao longo do século XX, acentuando o nacional, o regional, a divisâo das ciências, a particularizaçâo, o singular ou o peculiar, expressa a lógica do saber especializado, o qual, em suas formas mais criativas, desenvolve-se no interior da constante modernizaçâo do pensamento liberal-republicano.

A especializaçâo do saber, a partir de 1900, portanto, foi considerada como um dos fatores de grande limitaçâo no entendimento da educaçâo e/ou da prática instrucional. Por conseguinte, a compreensâo da consciência do homem, enquanto um ser submetido a processos de transformaçâo na universalidade do social, foi vista como uma proposta pedagógica a ser encaminhada. O pressuposto de que o universal (humano) se manifesta em cada sujeito ou em cada indivíduo, foi assumido, também, como um desafio a ser demonstrado por sistemáticas investigações. A busca de compreensâo da totalidade e/ou da história, conseqüentemente, foi assumida como uma exigência metodológica, que se expressa na ârea de Concentraçâo, Fundamentos da Educaçâo, escolhida por este Curso.

Contrariando uma tendência no Brasil, que, no bojo dos anos 80, desenvolve-se tendo como horizonte a Nova História, as atividades de pesquisa & ensino, previstas para o Mestrado em Educaçâo, foram planejadas sob um eixo teórico-metodológico definido, pelo qual explorar-se-iam caminhos antes inexplorados, sem abrir mâo das conexões entre passado e presente. Sem abandonar, pois, a questâo fundante deste Curso - que decide romper com descrições dos sistemas educacionais, com relatos tópicos ou com explicações imediatas, - procura, fora do pragmatismo, nas múltiplas mediações, o entendimento das mudanças sociais, educativas ou atitudinais.

No espectro dessa opçâo, uma disciplina de caráter obrigatório no Currículo - Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educaçâo I - surge como um instrumental necessário para exercitar o questionamento do porquê se dá o desenvolvimento e a morte de determinadas práticas sociais (com seus valores) ou de determinadas experiências educacionais (com suas rotinas didáticas). O pensamento da Grécia Antiga (do mítico ao filosófico) e o discurso do Cristianismo (da patrística à escolástica) sâo os recursos teóricos para o exame das lutas e contradições concretas que sustentam as diferentes ações humanas, os diferentes projetos de sociedade, as diferentes concepções de homem, buscadas quer pela via formal da instruçâo, quer operacionalizadas pela via informal.

Da morte do herói ao nascimento do cidadâo, da descaracterizaçâo do cidadâo ao desenvolvimento do cristâo, do desarranjo do cristâo à emergência do burguês, momentos de transiçâo precisam ser apreendidos na intimidade das relações que objetivam essas mudanças. Transformações nas figuras humanas precisam ser apreendidas por quem estuda os processos educativos carregados de intencionalidade. Da defesa da vida em família à apologia da vida pública, da vivência política democrática à prática silenciosa da hierarquia no império da Igreja medieval, mudanças qualitativas, - reveladoras das formas de organizaçâo social, intimamente coladas aos requisitos ou predicados dos indivíduos,- precisam ser examinados. Novos atributos ou virtudes, que substituem comportamentos sociais, antes valorizados, precisam ser retomados para melhor entendimento da educaçâo que os homens organizam. Enfim, processos de transformaçâo - que revelando-se em novos hábitos, em novas leis, nos novos modos de ler o mundo, expondo-se, enfim, no abandono das velhas formas educativas, - necessitam de observações mais acuradas para serem melhor compreendidas, enquanto atos humanos datados.

Na busca dessa compreensâo, uma opçâo por outras fontes alternativas para conhecer o passado foi feita, dando voz aos sujeitos que teriam sofrido essas mutações ou teriam acompanhado essas alterações comportamentais, vivendo-as no seu momento histórico. Daí a estratégia da incursâo na arte e/ou na literatura para compreender melhor o homem de cada período, de cada sociedade. A epopéia grega, a poesia lírica, a tragédia, a comédia, os textos políticos e militares, epístolas, sermões, textos de organizaçâo da Igreja, discussões teológicas, tratados sobre o poder régio e papal, manuais com leis e normas reguladoras dos procedimentos cristâos (quer monásticos, quer inquisitoriais), passam a ser instrumentos mediadores para um (re)exame das propostas pedagógicas ao longo dos tempos.

Para melhor organizaçâo deste Plano de Ensino fez-se um levantamento da bibliografia (relativa à Antigüidade e Idade Média) existente ou sugerida para a formaçâo de docentes2 e, com ela, a constataçâo de que, nesse rol obtido, velhos Manuais de História e de Filosofia da Educaçâo eram sugeridos com uma significativa freqüência numérica. Tal informaçâo acentuava preocupações pedagógicas tanto com o conteúdo que (ainda) está sendo repassado aos alunos como com a lógica utilizada para entender as relações entre os homens ou o universo da educaçâo.

Desvendando um pouco mais as críticas feitas aos textos examinados, acentua-se, para além do já dito em artigo escrito em 1989, 3 o confinamento do significado de totalidade às fronteiras do recorte feito para análise do objeto. A noçâo de totalidade, nesses livros, já está circunscrita pela divisâo do saber, e, como tal, as relações estabelecidas no discurso explicativo dos fenômenos educacionais, geralmente, permanecem nas balizas desse próprio fracionamento. Ainda que a totalidade seja buscada em muitos deles, o entendimento dessa totalidade nâo contém a história, expressando, desse modo, um certo comprometimento teórico com o funcionalismo e/ou com o estruturalismo que - nâo privilegiando exames do movimento de dissoluçâo das formas precedente operadas pelos indivíduos - nâo valorizam os conflitos e as angústias vivenciadas no nascimento de novas práticas ou novos hábitos que a educaçâo deverá assumir.

Tentando, pois, examinar sempre a educaçâo como expressâo de momentos de uma totalidade que a ultrapassa, portanto muito complexa, buscando entender a educaçâo nos marcos de ações que constróem situações novas assim como nos limites de atividades que destróem o próprio indivíduo antes educado, é que o Programa de Pesquisa Revendo a História da Educaçâo é reordenado em uma unidade menor, apenas sistematizando investigações que tenham como ponto de partida os estudos sobre a Antigüidade Clássica.

2. Fugindo e mantendo o convencional

Este Programa surge, entâo, da necessidade de tomar a educaçâo por seus fundamentos. Parte de uma outra concepçâo de educaçâo que nâo se confina no fazer institucionalizado.

Tampouco se propõe incorporar os conhecimentos de Arte, Literatura, História ou Filosofia para fazer uma mera recuperaçâo das idéias pedagógicas nos diferentes períodos históricos. Tem, como um dos objetivos a produçâo de textos alternativos que se contraponham às sínteses que, hoje, com a força do mercado e/ou da ideologia, desprezam as críticas feitas com base nas considerações teóricas, mais gerais, até aqui expostas. Seu público destinatário, alunos de 20 Grau, de Magistério e Universitários ligados aos Cursos de Pedagogia.

O trabalho interiorizado neste Programa - A Educaçâo que (Des) Conhecemos - constituindo-se de pesquisas que partem (inicialmente) de dúvidas e reflexões sobre as afirmações feitas em Manuais de História e de Filosofia de Educaçâo, incorpora Projetos Individuais de Pesquisa e/ou Dissertações que se proponham a discutir o conteúdo dessas mesmas afirmações. Para tal, toma como parâmetro avaliador dessas assertivas contemporâneas os debates e as controvérsias vividas na própria Antigüidade. Assim, recuperando as lutas desencadeadas nos períodos de desenvolvimento e de decadência da sociedade grega, trazendo os personagens no seio de conflitos que lhe dâo contornos, precisando a origem e o conteúdo das preocupações e/ou questões dessa época é que se organiza o material com o qual os discursos contemporâneos sâo comparados.

Nessa perspectiva, torna-se fundamental para os pesquisadores o retorno às fontes primárias ou o aprofundamento das obras da Antigüidade Clássica. Homero, Hesíodo, Teógnis, Solon, squilo, Píndaro, Aristófanes, Sófocles, Eurípedes, Isócrates, Demóstenes, Mênandros sâo considerados tâo importantes quanto os historiadores (Herodoto e Tucídides) ou quanto os Pré-Socráticos (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, Heráclito, Anaxágoras, Demócrito, entre outros) ou, mesmo, Sócrates, Platâo e Aristóteles. A literatura, nesse caso, torna-se aliada inseparável da filosofia e da história para melhor entendimento da prática social deste período histórico.

A recuperaçâo da prática social, por outro lado, necessita que se faça, concomitante à leitura dos clássicos, o resgaste da historiografia fatual, posto que as associações necessárias ou as relações a serem estabelecidas precisam, de modo inequívoco, do conhecimento de dados específicos como datas, acontecimentos, pessoas, lugares, etc . Três caminhos, portanto, confluem para dar concretude às relações necessárias aos trabalhos pertinentes a este Programa: a) um reconhecimento das maneiras de organizar e/ou dar sentido aos conteúdos privilegiados pelos Manuais, ou textos contemporâneos, mais utilizados na atualidade para a formaçâo de professores; b) um domínio dos debates dos cidadâos (poetas, filósofos, legisladores, estadistas, historiadores, retóricos,) do período abordado, ou seja, da Antigüidade; c) uma compreensâo da sociedade grega através dos fatos, fenômenos e processos que revelam lutas, tendências e contradições dos homens em sociedade.

3- Primeiros resultados ou primeiras reflexões

Seis anos depois, o Programa já conta com 6 Dissertações defendidas e 3 em fase de elaboraçâo, 2 Projetos de Iniciaçâo Científica e mais de 6 artigos que nâo só discutem as preocupações concretas de personagens e/ou de autores da Antigüidade Clássica mas as cotejam com o conhecimento moderno, que pretende explicar essas mesmas preocupações .

A primeira dissertaçâo defendida com este objetivo - Os gregos rindo de si mesmos: um olhar sobre a Democracia, de ALMEIDA, - é uma reflexâo sobre a necessidade individual e coletiva do século XX de assumir-se como democrática, apologizando teleologicamente esses sistema político de decisões, e fazendo dele, em seus aspectos idealizados, o critério atemporal de julgamento de qualquer época histórica. Para essa crítica, traz à tona os discursos dos gregos, que vivendo esse regime político em seu período considerado de apogeu, jamais deixam de assinalar, com realismo, sem reservas ou preconceitos, as tensões e contradições inerentes a essa organizaçâo social. Este trabalho acentua a necessidade de dar historicidade aos conceitos assim como sugere uma crítica aos dogmas da modernidade que inviabilizam a compreensâo da prática concreta dos homens.

A segunda dissertaçâo - Aristófanes: um renegado necessário, de MONTEIRO - questiona a facilidade com que ARISTàFANES é excluído ou rotulado de "reacionário" ou de "conservador" nos Manuais de Filosofia e/ou de História da Educaçâo. Assinalando que estes estigmas impedem ideologicamente de retirar do pensador a riqueza que ele contém, o trabalho resgata o pensamento aristofânico principalmente na sua forma de apreender o mundo enquanto explicável somente pela multiplicidade de relações. Por Aristófanes descrever com riqueza de detalhes os dramas e as perplexidades dos que caminham e se produzem no interior da sociedade grega em crise, a autora pergunta sobre o que há de educativo nos compêndios escolares quando os mesmos eliminam ou desvalorizam pensadores conhecidos exatamente por dissecarem as relações sociais (cotidianas) de modo contundente.

A terceira, - O Imperialismo grego como aspiraçâo democrática, de PETRONZELI, - um estudo sobre uma questâo pouco ou quase nunca abordada, nos Manuais de História e/ou de Filosofia de Educaçâo. Pergunta o autor por que tais exposições ou descrições feitas sobre a Democracia Grega jamais encaminham para exame o locus dessa democracia que se constitui, antiteticamente, na prática social deliberada em Assembléias e objetivada (enquanto consentida pela maioria) como Imperialismo Ateniense? Pensar o Estado e o Imperialismo à moda contemporânea, como força estranha e/ou independente dos interesses concretos de uma época, parece ser um ato típico da consciência burguesa que sequer reconhece, nos gregos, formas menos ideológicas de apreender a própria sociedade.

A quarta, - A perspectiva educacional grega, de RAMOS, - acentuando que nâo esgota a hipótese que dá origem ao seu trabalho, remete-nos para a necessidade de aprofundar e disciplinar reflexões de caráter histórico. Sua questâo de fundo é: quando surge, de fato, a intencionalidade educativa que precisa organizar esforços e/ou estruturar sistemas de ensino? Até que ponto o objetivo de manter os cidadâos nos limites da moderaçâo induz à sistematizaçâo dos processos educacionais? A gênese da intencionalidade educativa, organicamente estruturada, está, ou nâo, relacionada com a necessidade de internalizaçâo das leis civis que surgem, na Grécia, na passagem da vida familiar para a vida urbana? Pensando a educaçâo como um processo que responde às necessidades mais complexas e crescentes do homem, a autora pergunta-se por que os Manuais, destinados aos educadores, quando falam sobre os sistemas educacionais, desconsideram os processos de transformaçâo das relações sociais, ou mesmo dos papéis das diferentes figuras sociais.

A quinta, - Tragédia- da morte do homem coletivo ao nascimento do homem privado, de ROSSI, - analisando os textos, atualmente editados, que tratam da Tragédia Grega Antiga, confirma um procedimento, muito usual, qual seja o de conferir ao passado valores e comportamentos próprios à nossa época. Paralelamente, aponta para a riqueza dos dados sociais apresentados por squilo, Sófocles e Eurípedes e tenta, através desses poetas, acompanhar e reconstruir as transformações dos homens, principalmente aquelas que dizem respeito ao nascimento e crescimento de sua subjetividade.

Seu objetivo é o de mostrar as mudanças nas características e/ou na personalidade do grego, quando este supera a fase de dependência da família e dos valores religiosos e percebe-se como personagem autônomo e solitário das cidades. Da solidariedade do genos à individualidade da pólis, uma convocaçâo da autora para que penetremos no significado de ser social.

A sexta e última dissertaçâo já defendida - Os Sofistas Gregos: (re) análise de um comportamento político, de COSTA, - após um levantamento das obras da atualidade, de caráter pedagógico, registra que as análises contemporâneas sobre a matéria privilegiam os julgamentos de valor, as avaliações de caráter binário, onde os sofistas, por alguns, sâo percebidos como politicamente corretos, por outros, como destruidores da razâo e/ou da sociedade. A partir daí, recupera as teses dos Sofistas e a negaçâo das mesmas por Platâo e Aristóteles, assinalando que essas discussões (acaloradas à época) nascem e desenvolvem-se em um período histórico onde o apogeu grego cede lugar à decadência, gerenciada, fundamentalmente, pelas Guerras de Peloponeso. Nesta perspectiva, mostra ser tanto uma como outra posiçâo filosófica uma tentativa de resposta concreta de muitos homens (ainda que de modo bem antagônico) aos problemas sociais vividos por todos, inviabilizando, assim, qualificações dos pensadores por critérios morais.

Para além desses estudos aqui registrados, outras questões, apresentadas em forma de artigo, buscam aprofundar as reflexões sobre educaçâo que, na sua particularidade, deve ser vista impregnada de trânsito da humanidade.

4-Estágio atual do trabalho

Este trabalho articulado, que tem como ponto de partida a Antigüidade Clássica Grega, em execuçâo, continua ampliando sua esfera de atividade. Está organizando um Núcleo que pretende congregar pesquisadores interessados neste período histórico, independentemente de sua vinculaçâo profissional com o Curso de Mestrado em Educaçâo ou mesmo com a Universidade Estadual de Maringá.

A expansâo ou integraçâo com outros docentes e alunos, pretendida por este Programa, tem como finalidade última reunir pesquisadores interessados em discutir a educaçâo, utilizando-se para isso de mecanismos alternativos nâo convencionais que levam, conseqüentemente, a outras descobertas as quais escapam, em princípio, aos olhos dos especialistas, mais afeitos à faticidade e/ou ao pragmatismo dos processos pedagógicos institucionalizados.

De fato, ao estabelecer comparações entre as informações fornecidas aos educadores pelos Manuais de História e de Filosofia da Educaçâo e as informações prestadas pelos atores da vida de uma época, as pesquisas realizadas pretendem contribuir para a educaçâo atual. A necessidade de discriminar as diferentes formas históricas de conhecimento - da Antigüidade e da Contemporaneidade - ultrapassa, em finalidade, o mero conhecimento da vida ou da cultura dos gregos. A preocupaçâo em ensinar a nâo ler o passado pelas coordenadas do presente e nem o presente pelas interpretações do passado é uma meta pedagógica que nâo pode ser desconsiderada em épocas de crises paradigmáticas.

Problematizar o conhecimento que temos, e as formas de adquiri-lo no final do século XX, é um exercício benéfico para o profissional que se pretende crítico com seu próprio tempo. Sem fazer concessões à subjetividade, o educador deve ter clareza dos problemas decorrentes das formas humanas de conhecer, ou melhor, das possibilidades de cogniçâo que cada época oferece aos sujeitos que pensam.

Nesse sentido, as Dissertações, pedagogicamente, questionam os educadores sobre suas convicções ligadas à validade atemporal das normas sociais, morais, educacionais. Discutem sobre a possibilidade de usar, sem nenhum pudor, significados universais e nâo-históricos para descrever ou explicar realizações humanas. Interrogam sobre o padrâo de pensamento formado pelo mercado, pela publicidade, pelo encantamento da tecnologia, pelo reducionismo do fazer científico, pela indústria cultural e, conseqüentemente, analisam os resultados dessas influências na prática acadêmica, reativada, constantemente, pela editoraçâo de fácil vendagem.

Dando concretude a essas inquietações, tentando resgatar a história e a filosofia na análise dos processos educativos, desejando superar a idéia de que a área da educaçâo é um campo de conhecimento independente, singular e limitado, é que os textos produzidos no interior deste Programa de Pesquisa, encaminham reflexões sobre vivências humanas coletivas e contraditórias. Vivências essas que, - geralmente vistas como meras questões da sociologia, história, filosofia, política, economia, psicologia, ou, mesmo, vistas como entidades que podem ser separadas das relações educador & educando - neste Programa, sâo resgatadas como básicas para entender qualquer meio, método, recurso, instrumento ou intencionalidade educacional.

Do nosso ponto de vista, qualquer processo educacional (de pequeno ou grande porte) só pode ser entendido na sua complexidade, e isso só acontece caso o pesquisador tenha plena consciência das transformações sociais que sustentam as formas educacionais usadas para preparar e/ou especializar o homem para relacionamentos (positivos) com os demais. Nessa concepçâo, impossível deixar de analisar a consciência que os homens têm de si mesmos e de seus comportamentos que costumam ser decodificados, simplesmente, como políticos, econômicos, culturais, ou, apenas, educacionais.

Impossível, nessa proposta teórica, deixar de examinar o grau de abstraçâo com que os educadores vêm trabalhando determinadas questões muitas concretas, como por exemplo, democracia, imperialismo, solidariedade, individualismo, ciência, opiniâo, gênese, espontaneísmo, transformaçâo, modernizaçâo, contradiçâo, linearidade, eixo teórico ou morte de paradigmas. Questões que, se entendidas de modo metafísico, condicionam análises muito particulares sobre educaçâo, onde as relações de causa e efeito sâo estabelecidas de modo imediato (ou aparente) em um universo, por metodologia, já descolado do todo social.

Reforça-se, aqui, a concepçâo de educaçâo, que norteia este Programa de Pesquisa. Tal concepçâo expressa a ârea de Concentraçâo do Mestrado em Educaçâo, Fundamentos da Educaçâo, pois foge da idéia de que os processos educativos podem ser isolados, artificialmente, das múltiplas relações que concretizam o ser social. Sob essas coordenadas, as mediações sucessivas que produzem o ser social, - o homem datado, o educador ou o aluno de uma época, ou, mesmo, aquelas mediações que objetivam o conteúdo educativo de determinados períodos históricos, - sâo buscadas intencionalmente para maior entendimento do que seja a educaçâo ou o ato de educar.

, pois, nessa linha teórica que se pretende encaminhar o conhecimento sobre educaçâo. Internalizado o interesse em desvendar o ser humano como uma produçâo coletiva de todos os homens, acredita-se que a investigaçâo de cada discente (ou futuro profissional) nâo se reduza à elaboraçâo de sua Dissertaçâo, nem na compreensâo do Ensino & Aprendizagem nos limites internos das redes institucionais, das escolas ou cursos. Isto porquê a proposta efetiva deste Mestrado é a de examinar e interferir na prática pedagógica, investigando-a sempre sob a ótica das relações sociais, que ora criam necessidades de ensino ora as destróem com maestria didática. Acrescentando que, para ser positiva essa interferência, o estudioso tem como condiçâo básica assumir-se, simultaneamente, como sujeito e objeto das lutas e/ou transformações sociais.

Sob tais pressupostos, as dissertações já defendidas, mesmo tendo a Antigüidade por temática (ou ponto de partida), instigam muitas reflexões sobre a prática docente contemporânea. Entre as exigências derivadas dessas reflexões estaria aquela que insiste na necessidade de avaliar o conhecimento contemporâneo na área da educaçâo, concretizando, desse modo, alguns objetivos do Mestrado, como os que seguem:

a) Discriminar ou reconhecer os parâmetros teóricos que tem subsidiado as explicações do fenômeno educativo, no processo histórico.

b) Analisar as contradições inerentes às matrizes teóricas utilizadas, avaliando seus encaminhamentos práticos.

c) Produzir conhecimentos que ultrapassem os limites de análises identificadas como problemáticas ou simplificadoras da complexidade do processo educativo.

Para além da intençâo de examinar práticas, metodologias, representações, interpretações e valores da sociedade para entender melhor os processos educativos, o Programa de Pesquisa Revendo a História da Educaçâo : A Educaçâo que (Des) Conhecemos tem, ainda, uma última preocupaçâo: a de organizar meios para que os trabalhos sob esta perspectiva sejam significativos numericamente.

Acredita-se ser esta a condiçâo essencial para o exame futuro desta produçâo, que, ainda principiante, parece, mesmo, ir contracorrente.

BIBLIOGRAFIA

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3-Vide Nagel, História da Educaçâo: da tradiçâo do velho idealismo à falsa interpretaçâo do novo materialismo.

NOTA DE LOS EDITORES

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