II Encuentro Nacional "La Universidad como Objeto de Investigación" |
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Centro de Estudios Avanzados (CEA - Universidad de Buenos Aires -UBA)Noviembre 1997 |
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HISTORIA DA EDUCAÇÃO E NECESSIDADES HISTORICAS
AUTORA: Dra. SILVINA ROSA DOUTORA EM LETRAS PELA UNESP, ASSIS.
DOCENTE DO CURSO DE POS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO,.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGã.
RESIDENCIA: Av. Humaitá, 101, apto. 52 - CEP 87013-430 PR- BRASIL FONE (044)
262 3518 FONE/FAX (044) 2621161
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RESUMO
Como docente do Curso de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, queremos expor uma experiência alternativa de pensar e trabalhar a história da educação, em substituição ao esquematismo dos manuais usados nos cursos de pedagogia. O objetivo do projeto de pesquisa intitulado A literatura como fonte alternativa para a história da educação é explorar nos romances a forma como os indivíduos comportam-se diante da transformação histórica. Os dados resultantes da pesquisa têm sido utilizados na organização de atividades de ensino, cuja discussão sobre a função da educação tem sido profícua e, ao mesmo tempo, agradável.
Pretendemos, com este texto, expor e discutir as experiências que estamos desenvolvendo já há algum tempo, enquanto docente junto ao Curso de Pós-Graduação em Educação, ãrea de Concentração em Fundamentos da Educação, em nível de Mestrado. Na verdade, desejamos, através do relato de nossa experiência, provocar uma discussão acerca de formas alternativas de pensar e trabalhar a história da educação, uma vez que encontramos muitas dificuldades por parte dos alunos para assimilar os conteúdos encontrados nos livros tradicionalmente adotados nos cursos de graduação. Além disso, nós próprios discordamos da forma bastante esquemática e a-histórica com que esses manuais, em sua maioria, tratam a questão educacional.
Não estamos sozinhos nessa tarefa, pois ela faz parte da proposta do Curso de Mestrado, no qual atuamos como docente e pesquisadora. O objetivo básico do Curso é aprofundar reflexões sobre a relação entre educação e sociedade, a partir do eixo teórico-metodológico norteador, Formas históricas do trabalho e educação. Segundo esse prisma, a relação entre educação e sociedade está pautada na forma como o homem produz a vida, ou seja, na concepção de que a relação entre educação e sociedade obedece aos parâmetros da forma, social, como os homens organizam o trabalho para produzir a vida.
Assim sendo, por entender que as questões educativas não podem ser compreendidas em toda sua profundidade se não são inseridas no contexto mais amplo das necessidades de uma época histórica, ao invés de focalizar diretamente as questões educativas, prioriza-se as relações sociais, ou melhor, o processo de transformação social.
Não se trata, todavia, de um desvio, mas da premissa de que não é possível compreender a educação como uma atividade autônoma, que pode, independentemente de qualquer outra força social, fixar sua função, seus caminhos, suas metas.
Vamos nos ater, neste texto, que, na verdade, é um pretexto para uma discussão, a relatar nossa experiência acadêmica, na qual procuramos colocar em prática o eixo teórico- metodológico norteador do curso, tanto em termos das atividades de pesquisa como nas atividades de ensino.
I-Atividades de pesquisa Integrando a linha de pesquisa do Curso, História, historiografia e educação, desenvolvemos um projeto de pesquisa intitulado A literatura como fonte alternativa para a história da educação, ao qual se vinculam sub- projetos de alunos da pós-graduação lato e stricto sensu e da graduação. Um deles resultou uma dissertação de mestrado que, sob o título Indivíduo e educação: elos de uma corrente, foi defendida recentemente pela aluna Beatriz Müller.
Selecionando textos literários significativos de várias épocas, exploramos, neste projeto, as diversas maneiras pelas quais as transformações históricas manifestam-se no comportamento e/ou na educação dos indivíduos, principalmente no que diz respeito à educação familiar, num sentido restrito, e a social, num sentido mais amplo.
Ultrapassando os muros escolares, colocamos a educação no palco da vida, abordando-a da perspectiva dos costumes, uma vez que, diante de sua transformação incessante, os educadores sentem-se muitas vezes despreparados e impotentes.
Nesse trabalho, evidentemente, não se despreza o contato com outros tipos de fontes, pois a literatura também não é uma produção humana independente das demais. A interpretação dos dados que ela oferece é feita à luz de textos teóricos atuais, bem como de textos filosóficos e históricos produzidos na várias épocas estudadas.
Exploramos, portanto, textos teóricos e literários.
Na tentativa de se entender as complexas relações entre indivíduo, movimento histórico e educação, é fundamental que o trabalho de pesquisa seja feito com base nesses dois tipos de linguagem, ou seja, teórica e literária. No texto de natureza teórica, não se apresenta a realidade imediatamente, em atos; descarta-se o particular e o individual, pois a preocupação é conectar os fatos, elucidar o caminho percorrido pela humanidade, com a meta de chegar a um resultado final ou a uma síntese. Desta forma, ao estabelecer categorias, leis e princípios gerais, a linguagem científica, apesar de inanimada, se comparada à da literatura, prenhe do fervilhar da vida, monta o difícil quebra-cabeça que nos permite compreender os homens como seres históricos. Seu objeto específico, portanto, não é o mesmo da arte poética, mas as questões abstratas do pensamento racional.
Na medida em que a finalidade do projeto são as mudanças de comportamento e os costumes, a literatura preenche a lacuna da ciência porque representa a relação dinâmica existente entre o indivíduo e os encaminhamentos gerais, históricos de uma determinada época, revelando que o modo de pensar, de agir, de amar, falar ou vestir, os valores ou temores extrapolam os limites da pura individualidade. São resultado da relação conflituosa e dinâmica entre o indivíduo e as tendências sociais. As características humanas, mais do que manifestações da personalidade individual ou de grupos, expressam o movimento geral da sociedade. A ciência social focaliza a história humana, estabelecendo os princípios gerais de determinados períodos, a arte mostra-nos como os seres históricos, enquanto indivíduos, comportam-se frente às diversas necessidades.
Na literatura, a multiplicidade de aspectos individuais dão cor e forma à realidade. As contradições da sociedade aparecem sem nenhuma interferência intencionalmente explícita, do ponto de vista científico e até moral por parte do artista. A mesma personagem pode ter várias faces.
Em determinadas situações é herói, em outras é covarde ou mesquinho. O que define seu caráter é a situação em que se encontra face a outras personagens e situações.
Todavia, o conteúdo da literatura são as particularidades da existência, de forma independente, mas viva. O particular, a heterogeneidade dos comportamentos, as contradições que, na maioria das vezes são atribuídas somente à criatividade do autor, têm origem no movimento geral da sociedade.
Desfrutando desta beleza, utilizamos a literatura para compreender a realidade histórica presente nas particularidades da vida, segundo a qual os indivíduos não se comportam como querem, mas lutam para ser ou não ser o que a sociedade quer que eles sejam.
O objetivo deste aparente deslocamento, provocado pela concepção de que a educação é decorrência do processo histórico, é tornar mais claros os limites e as possibilidades de avanço da prática educativa sistematizada. Esta está sujeita ao processo social, porque a cada forma de organização social correspondem necessidades diferentes às quais os indivíduos têm que atender. Ou seja, é no processo social que os homens educam-se uns aos outros, tornando-se seres de uma época.
Numa afirmativa que deve ser entendida cum grano salis pode-se dizer que os limites comportamentais não são estabelecidos pelos indivíduos em sua singularidade absoluta, nem pelas instituições, mas têm caráter eminentemente social. no processo de transformação social que os indivíduos são produzidos ou mesmo destruídos. Quem, em primeira instância, e informalmente, direciona, transforma, educa os indivíduos e projeta luzes sobre a educação formal é a sociedade.
Neste nível de raciocínio, a educação formal também não é um elemento autônomo, desvinculado do processo social, mas, como, em geral, é assim considerada, as discussões sobre as instituições escolares, não avançam de forma significativa.
Responsabiliza-se ora a atuação do professor, ora o governo que não dispende verbas para o setor e não valoriza os professores, ora os alunos que nem sequer querem frequentar a escola, ora a própria comunidade. Sem uma atenção maior ao processo social de criação e satisfação de necessidades que subjaz às questões educativas, diversos segmentos são, então, convocados a participar do processo de construção de uma nova educação que dê conta de resolver não só os seus problemas internos, mas também os problemas sociais que são atribuídos, pelo senso comum, à incompetência dos educadores e à falta de interesse dos governantes.
Discordamos da idéia de que os homens são produto da educação institucional e que a ela cabe transformar ou redirecionar a sociedade, interferindo, inclusive, no processo produtivo. Para nós, são os homens que, em conjunto, e num processo meio cego, transformam as circunstâncias em que vivem e, ao alterá-las, impõem determinadas práticas e determinados conteúdos ao próprio educador, modelando também as instituições As tranformações históricas é que acabam impondo a necessidade de novos comportamentos sociais, que, por sua vez, são assumidos como conteúdo da educação formal.
MARX e ENGELS n'A Ideologia alemã, nos dão o parâmetro teórico para a compreensão desse movimento histórico, no qual os homens, ao mesmo tempo em que se baseiam nas condições de vida das gerações anteriores, alteram as condições históricas da realidade em todos os níveis e formas de expressão. Para eles, a história é [...] a sucessão de diferentes gerações, cada uma das quais explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado, prossegue em condições completamente diferentes à atividade precedente, enquanto, de outro lado, modifica as circunstâncias anteriores através de uma atividade totalmente diversa. (MARX; ENGELS, 1979, p. 70)
A transformação social é, portanto, conseqüência do ato humano de viver. Ao modificar sua forma de produção, os homens modificam também seus hábitos, costumes e idéias.
Por isso, ao falar em transformação social, estamos falando também em substituição de costumes, pois, ao mesmo tempo em que velhos comportamentos, que já não condizem com as necessidades da produção da vida, são socialmente destruídos, outros novos têm que ser aprendidos. Os costumes não têm existência própria, independente do processo social. Os costumes são os próprios homens em ação.
Os resultados desse projeto de pesquisa dão suporte às disciplinas optativas do curso que ficam sob nossa responsabilidade e a outras atividades de ensino.
II.Atividades de ensino Pretendo, nesta parte do texto, expor os resultados de uma série de seminários denominados Reflexões sobre arte, história e educação, cujo público são os alunos da graduação, pós-graduação, profissionais do ensino de I e II graus e interessados em geral. Utilizando filmes, textos literários e teóricos, telas de pintura, enfim, obras de arte em geral, seu objetivo específico é envolver a comunidade nesse tipo de discussão.
Os seminários, em 1997, foram organizados com base em telas, filmes e textos curtos referentes ou produzidos no século XVI, XVII, XVIII, XIX e XX. Textos de Camões, Vieira, D. Francisco Manuel de Melo, Voltaire, Tchecov, Brecht e filmes como Ligações Perigosas, Com o dinheiro dos outros são discutidos com o objetivo de mostrar os sofrimentos, as agonias, paixões e entusiasmos, contradições e incoerências dos indivíduos diante de um processo inexorável que os leva a abandonar antigos valores e a adotar novos procedimentos .
Podemos dizer que tais recursos culturais têm se mostrado altamente positivos. Sentimos que alarga os horizontes intelectuais e expressivos dos alunos, bem como aguça sua sensibilidade para perceber nuances do comportamento humano. A arte, como já dissemos, possui uma natureza figurativa resultante da maneira pela qual o artista capta a ação da história na vida particular dos indivíduos, que torna os sentimentos, as paixões, os interesses, os sofrimentos e as alegrias que permeiam sua ação, ou conformação, em meio às lutas sociais visível e palpável para quem a frui.
Portanto, aproveitando-nos das vantagens que ela nos fornece, nestes seminários a reflexão sobre a educação e a história torna-se, ao mesmo tempo, profícua e agradável.
Profícua porque se pode visualizar, através da literatura, a ação de homens reais, concretos, resultado da imaginação criadora do artista, mas nem por isso menos concretos.
Agradável, porque, ao invés de complexas leituras teóricas, faz-se uma a discussão de textos leves e descontraídos. Podemos, assim, ultrapassar o tempo e o espaço e nos ver, a nós mesmos, enquanto seres sociais em ação. Enquanto indivíduos, sujeitos de nosso tempo, vivemos os conflitos e contradições próprios dele e cabe a nós resolvê-los ou superá-los. Esta visão histórica tão concreta que a arte nos dá permite-nos refletir sobre os limites, possibilidades e responsabilidades do indivíduo de forma mais segura.
A experiência tem sido muito interessante, pois desperta, mesmo naqueles que não têm iniciação em estética ou teoria literária, o prazer de ler e descobrir questões profundas relativas à natureza humana de forma a ultrapassar o senso comum.
BIBLIOGRAFIA
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira.São Paulo, Martins Fontes, 1972.
HEGEL, F. Estética. Lisboa, Guimarães, 1962.
LUKACS, G. O romance como epopéia burguesa Trad. De Letizia Zini Antunes, 1980. Texto mimeografado.
MARX, K., ENGELS, F. A ideologia alemã. S.Paulo, Ciências Humanas, 1979.
____________________Sobre literatura e arte. Lisboa, Estampa, 1974.
ROSA, Silvina. Da épica cavaleiresca a Os Lusíadas Reflexões sobre literatura e história. Tese de doutorado defendida na UNESP, Assis, em 1974.
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