PATRIMÔNIO CULTURAL DE ILHÉUS E TURISMO: UM DIREITO DE TODOS

Julianna Nascimento Torezani *

Resumo

 

Aborda a relação do patrimônio cultural com o setor turístico, como é aproveitado pela atividade turística em roteiros culturais. Analisa especificamente a relação do patrimônio com o turismo na cidade de Ilhéus, bem como seus bens arquitetônicos que compõem os atrativos culturais da localidade. Foi escolhida a cidade de Ilhéus por apresentar um patrimônio de quase cinco séculos, quando a cidade foi fundada no século XVI, e conta em seus prédios de vários estilos arquitetônicos como colonial, neo-gótico e neo-clássico. A importância de se estudar o patrimônio se deve ao fato deste apresentar as características históricas da cidade, revelando seus aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais e assim deve ser valorizado, pois faz parte da memória coletiva, ainda que estes bens culturais pertencem à comunidade, sendo assim de todos.

 

Palavras-chave: Ilhéus - Patrimônio Cultural - Turismo.

  1. INTRODUÇÃO

Como o patrimônio cultural é um bem de todos, construído e reconstruído na dinamicidade na produção humana, este trabalho elucida investigar, analisar e discutir os conceitos de patrimônio cultural e sua relação com o turismo, observando, especificamente, a cidade de Ilhéus, que fica no Sul do Estado da Bahia, no Brasil.

Teoricamente o trabalho foi organizado a partir das idéias expressas nas publicações de Avighi (2000), Beni (2000), Funari e Pinsky (2005), Lemos (1981), Pellegrini Filho (1997), Sacramento (2005) e Simões (2001).

Para efeito metodológico o trabalho foi dividido em partes. Na primeira, traz uma discussão do conceito de patrimônio cultural, na seguinte, apresenta informações da cidade de Ilhéus, em seus dados históricos, na terceira, é abordada a questão do turismo. A seguir, é exposta a relação intrínseca entre o patrimônio cultural com a atividade turística, por fim, busca visualizar estes aspectos entre o patrimônio de Ilhéus e o turismo, bem como, traz um levantamento do patrimônio arquitetônico da cidade.

PATRIMÔNIO CULTURAL: BENS DE TODOS

A cultura é dinâmica, assim está sempre em transformação, a partir dela entendemos as modificações que ocorrem no patrimônio arquitetônico no decorrer dos séculos, sejam as reformas públicas, as preservações, as mudanças gerais, a pluralidade arquitetônica, ou o purismo de linha. A cada momento é refletido no patrimônio o pensamento, os saberes e as criações de uma comunidade.

Assim, Pellegrini Filho (1997, 90-91) afirma que "atualmente, o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humano - o que no conjunto se poderia definir como o meio ambiente artificial".

O professor francês Hugues de Varine-Boham, na obra de Carlos Lemos, O que é patrimônio histórico (1981), explica que o patrimônio histórico-cultural está dividido em três grupos: elementos naturais, como os rios, as matas, as praias; elementos do saber, as técnicas e artes, que o homem utiliza para sobreviver, como saber cozinhar, desenhar, transformar, dançar, esculpir; e, bens culturais que surgem a partir dos outros dois grupos que são objetos, artefatos e construções. Os bens culturais se dividem em móveis, que são setoriais e possíveis de serem colecionados como fotografias, selos, músicas, festas populares; e imóveis, que são as edificações como igrejas, residências, fortes, prédios, ruas, cidades, cemitérios.

Neste trabalho é utilizada a denominação de patrimônio histórico-cultural de uma nação aos bens culturais, que dizem respeito a construções, costumes, culinária, formas de organização, usos, festas populares, religião, tudo que seja representativo de uma geração.

Para Funari e Pinsky (2005, 08) "o patrimônio cultural é tudo aquilo que constitui um bem apropriado pelo homem, com suas características únicas e particulares". Ao analisar o patrimônio histórico-cultural de um determinado local, este deve, no primeiro momento, estar ligado à identidade do grupo, o qual representa. Não devem ser esquecidas as origens étnicas, além de muitas outras, que, com o tempo e com os deslocamentos, misturaram culturas e formaram novos elementos, peculiares de cada localidade.

A cultura é o que nos torna singulares, o patrimônio, enquanto expressão cultural é que vai edificar os costumes, a política, os interesses econômicos e as características do lugar.

ILHÉUS: TERRA DO CACAU, TERRA DE JORGE AMADO

Ilhéus é uma cidade que tem 471 anos, localizada na Região Sul da Bahia, foi Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus, situada a 462 Km de Salvador.

A cidade começou a ser construída no século XVI, com estrutura colonial, quando se desenvolveram os canaviais e os engenhos. No final deste século, a produção de açúcar entrou em decadência e a Vila passou a vender madeira.

Nos séculos XVII e XVIII, a cidade sofre invasões de estrangeiros franceses, holandeses e algumas enfermidades. No século XIX, começa o povoamento da parte baixa da cidade. Também, neste século, em 28 de junho de 1881, pela Lei n° 2.187, a vila São Jorge dos Ilhéus passou à categoria de cidade.

No século XX, começa a epopéia do cacau. Nas décadas de 20 e 30, constituíram a fase áurea do cacau, mas, na década de 80, houve o declínio da lavoura cacaueira devido à doença causada pelo fungo Crinipellis perniciosa , uma praga conhecida como vassoura-de-bruxa. E, na década de 90, o turismo surge como uma alternativa para superar a crise, além de outras atividades econômicas.

Deve-se observar, ao analisar o patrimônio cultural de Ilhéus, as reformas urbanas que modificaram de forma significativa o patrimônio arquitetônico da cidade. Em poucos lugares, são encontrados os traços coloniais, na medida em que a maior parte dos prédios foi construída a partir das primeiras décadas do século XX,

Hoje, Ilhéus é uma cidade que busca, através do turismo e de outras atividades econômicas, se reerguer. Conta com ambientes acadêmicos para pesquisa, mas precisa de ações, por parte do poder público e da comunidade, para com o seu patrimônio cultural; valorizando não só os bens culturais imóveis, bem como o patrimônio imaterial, resgatando e preservando e reconfigurando festas, tradições religiosas, cultos afros e demais expressões artístico-culturais da cidade.

Também podemos estudar o patrimônio de Ilhéus a partir das obras do escritor, Jorge Amado. Seus livros Cacau (1933), Terras do Sem-fim (1942), São Jorge dos Ilhéus (1944), Gabriela, Cravo e Canela (1958), e Tocaia Grande: A Face Obscura (1984) foram traduzidos em vários idiomas e imortalizaram vários locais como o Bataclan, o Bar Vesúvio e o Teatro Municipal. O leitor de Jorge Amado, conhecendo através de suas obras de ficção os lugares mencionados, sente-se motivado a ir até Ilhéus e a identificar estes locais.

TURISMO: LAZER, CULTURA, ARTE - BUSCA DA DIFERENÇA

O turismo é uma atividade que conta com elementos essenciais para sua realização: os atrativos naturais, como praias, matas; atrativos culturais, como festas, museus, prédios; equipamentos e serviços como hotéis, restaurantes, transportes; e, infra-estrutura de apoio, como sistema de comunicação, hospitalar.

Segundo Beni (2000, p. 168), "o turismo é um elemento importante da vida social e econômica da comunidade regional. Reflete as aspirações legítimas das pessoas no sentido de desfrutar de novos lugares, assimilar culturas diferentes, beneficiar-se de atividades ou descansar longe do local habitual de residência". A partir deste pensamento, viajar também implica conhecer a cultura de um povo, na busca pelo diferente.

O patrimônio histórico-cultural é capaz de possibilitar a busca pela continuidade da experiência humana e o turismo cultural, especificamente, permite que o visitante entre em contato com outros modos de vida, despertando a curiosidade pelas crenças, os valores e as expressões culturais.  Por turismo cultural, entendemos a viagem em busca de novos conhecimentos, a partir da herança histórica, artística e científica de uma comunidade para. Inclui visitas a ruínas, teatros, grutas, museus, templos, monumentos e sítios arqueológicos.

Assistimos à intensificação do turismo cultural, na medida em que, contando com a infra-estrutura proporcionada pela economia globalizada, essa prática oferece entretenimento de boa qualidade, não massivo, àqueles que entendem que o global é produto da soma diferenciada das partes e não a negação destas em nome do controle. Desse modo, ao procurar a diferença, o turista cultural propõe-se o consumo não alienado, desautomatizado do pós-fordismo (Sacramento, 2005 - no prelo).

Como afirma Sacramento, o turismo na pós-modernidade vai ser formatado pela alteridade. Neste período, diferente da modernidade, em que o turismo era para a massa, aqui é planejado para pequenos grupos, que buscam peculiaridades em suas viagens. O turismo cultural é privilegiado, uma vez que proporciona aos turistas que querem experiências individuais, o conhecimento e a pesquisa de lugares escolhidos por motivos pessoais, indo, assim, além do lazer, porque afirma a diferença .

PATRIMÔNIO CULTURAL E TURISMO: UMA RELAÇÃO INTRÍNSECA

O turismo enquanto atividade que trata das viagens e do lazer, ao mesmo tempo, promove a cultura do local, principalmente em roteiros que tratam do turismo cultural. Para Avighi (2000, 104) "a nova concepção de turismo instala uma aliança entre o planejamento econômico-financeiro e de infra-estrutura e a percepção mais ampla, digamos assim, interessada por bens culturais e estilos de vida e que provoque a imaginação". Assim o turismo deve trabalhar com o espaço da comunidade existente, redescobrindo seus valores, seus sentidos e suas riquezas culturais que serão valorizados através dos viajantes para ter contato com a identidade que os grupos sociais impõem aos bens culturais.

A partir do turismo cultural, vários aspectos podem ser explorados para atrair visitantes. Através da arte, desde objetos plásticos da pintura, da escultura, do artesanato, como de expressões populares com as festas, os carnavais, os jogos etc. Através da gastronomia típica que é bastante valorizada pelos turistas, com pratos representativos da culinária local, bem como o modo de preparar a comida. E através da arquitetura histórica, em que há sempre uma demanda de turistas que se deslocam para conhecer edificações únicas, que representam as características de um povo, e através dos prédios é possível contar a história de uma civilização.

A ousadia é que faz grandes idéias tornarem-se realidade. A vontade política, o olhar lúcido e comprometido com o bem estar social, também. Mas é necessário que isso esteja aliado à idéia de um desenvolvimento comprometido com a cultural local. Assim, é possível um turismo cultural garantidor da preservação do patrimônio cultural e natural. Somente dessa forma, a sustentabilidade não se restringirá a aspectos econômicos, mas também atentará para o respeito aos cidadãos e às comunidades locais (Simões, 2001, 02).

A atração cultural torna-se a principal motivação da viagem, existindo uma relação intrínseca entre patrimônio e turismo cultural, na medida em que as localidades turísticas se apresentam vinculadas aos fatores culturais, através do artesanato, da gastronomia, da arquitetura e da história.

O patrimônio cultural enriquece a atividade turística local com o "diferencial" procurado pelos viajantes e o turismo preserva e reconfigura os bens culturais, importantes para a memória, enquanto elementos do legado cultural e histórico de um povo.

O PATRIMÔNIO CULTURAL DE ILHÉUS E A ATIVIDADE TURÍSTICA

O patrimônio cultural é importante para a atividade turística, pois o turismo é o eixo da promoção e da divulgação da cultura, garantindo também o desenvolvimento sustentável da localidade.

Em Ilhéus, muitos lugares que fazem parte do patrimônio cultural, entre os bens culturais imóveis podem ser lembrados como atrativos turísticos. O Quarteirão Jorge Amado é uma rua no centro da cidade, que foi transformada e pavimentada como "calçadão", onde não transitam veículos, compreende os prédios que estão na Rua Jorge Amado, que vai da Praça D. Eduardo até a Praça J. J. Seabra. Este espaço foi denominado em homenagem ao escritor Jorge Amado, pois ali está localizada a casa em que o romancista viveu. A denominação partiu da prefeitura e a obra foi realizada em duas etapas em convênios com o governo estadual e federal, esse é um produto formatado como turístico-cultural existente na cidade de Ilhéus, utilizando o ícone do escritor que viveu e escreveu em seus livros fatos da cidade.

No quarteirão está presente a Catedral de São Sebastião inaugurada na no dia 21 de setembro de 1967, com a presença do Núncio Apostólico do Brasil. Apresenta-se em estilo eclético, pois há uma variedade de estilos arquitetônicos, como o neo-clássico e o gótico, possui torres e vitrais franceses, colunas coríntias, abóbadas romanas, cúpulas renascentistas e adornos barrocos. Foi construída por Salomão da Silveira, no local onde havia uma capela colonial do século XIV e que infelizmente, no início do século XX com a fase econômica áurea da cidade, graças à cultura do cacau e seguindo os modelos das reformas urbanas de Paris e do Rio de Janeiro, o patrimônio da cidade de Ilhéus foi muito transformado, como exemplo da catedral, no lugar de templo colonial.

Ao lado da Catedral, está o famoso Bar Vesúvio , imortalizado na obra Gabriela Cravo e Canela de Jorge Amado, cenário dos personagens Gabriela e do turco Nacib. É um dos pontos mais freqüentados da cidade, onde é vendido o quibe, comida que se tornou típica no local, por causa dos imigrantes sírios e libaneses. Local de reunião dos coronéis, na época de ouro do cacau, para tratar dos negócios e da política. Já passou por vários proprietários, mas conserva o estilo arquitetônico. O prédio foi construído na década de 20 do século passado. O Bar Vesúvio era o mais antigo da cidade. Ocupava o andar térreo de um sobrado de esquina numa pequena e linda praça em frente à Igreja de São Sebastião (Amado, 1998, 43).

Próximo do Vesúvio encontra-se o Teatro Municipal de Ilhéus , antigo Cine-teatro Ilhéos, inaugurado em 10 de junho de 1932. Já recebeu grandes companhias líricas, atores, atrizes e cantores nacionais e estrangeiros, como as de Procópio e Bibi Ferreira e cantores populares como Cauby Peixoto, Ângela Maria, Sylvio Caldas, Nélson Gonçalves e Luiz Gonzaga. Foi reconstruído pela prefeitura e reinaugurado em 10 de julho de 1986 com capacidade para 475 pessoas. Tem o estilo eclético e é considerado excelente em acústica, conforto e beleza. Nele já se apresentaram Vera Fischer, Cláudia Raia, Chico Anísio, Eva Wilma, Henriqueta Brieba e outros artistas.

Logo depois, encontra-se a Casa de Cultura Jorge Amado . Foi construída em 1926 pelo pai do escritor Sr. João Amado Faria. Reformada e reconstruída por Maximiano Souza Coelho que transformou a casa num estreito e imponente palacete em estilo eclético. Nesta casa, Jorge Amado passou a infância e juventude, onde escreveu alguns capítulos do seu primeiro romance O País do Carnaval (1931). Em 1961, o local passou a Sociedade Sul-bahiana de Cultura, mantenedora da Faculdade de Direito de Ilhéus. Depois foi o Clube dos Bancários e a Receita Federal. Após sua restauração de 1997, voltou-se para a cultura, inaugurada no dia 27 de junho, com a presença de Jorge Amado, Zélia Gattai e personalidades culturais. Desta data em diante expõe um acervo pessoal do escritor com livros, fotos e esculturas.

Ao lado desta, está o prédio da Casa dos Artistas , um espaço cultural que abriga teatro e museu, além de ser espaço para exposições plásticas e saraus literários. Antiga casa do Cel. Domingos Adami de Sá; prefeito de Ilhéus e chefe de um grupo político. Construída em 1890, foi residência do coronel até a década de 20; depois passou a ser a Escola Afonso de Carvalho até o final da década de 30. Em 1985 foi adquirida pelo mecenas Hans Koella (empresário suíço) que a transformou em para um espaço cultural destinado a exposições de pintura, escultura, cerâmica, cursos, peças teatrais e outras atividades artísticas. Atualmente é coordenada pelo Teatro Popular de Ilhéus, ONG que atua desde 1995 na promoção cultural da cidade. A fachada do prédio foi preservada.

Em frente à Praça J. J. Seabra tem-se o imponente Palácio Paranaguá , que abriga a sede da Prefeitura Municipal. Foi erguido em 1898, nominado em homenagem ao governador da Bahia, Marquês de Paranaguá, que levou Ilhéus à condição de cidade. No lugar do antigo Colégio dos Jesuítas que funcionou até 1817, que depois passou a Câmara Municipal. Foi um dos edifícios públicos mais luxuosos e melhor decorado e mobiliado do estado à época, em estilo neo-clássico. Os trabalhos de decoração e pintura foram feitos pelo artista italiano Oreste Sarcelli e a iluminação, a acetileno, pelos irmãos Vita. No salão nobre ostenta retratos dos antigos prefeitos e intendentes, muitos deles "coronéis do cacau". Fica próximo a Casa de Cultura Jorge Amado.

Também nas imediações da praça, está o Palácio da Associação Comercial , construído em 1932, representando a ostentação dos tempos áureos do cacau. Este imponente prédio possui aposentos refinados que lembram a Belle Époque . Jorge Amado se inspirou no poeta Sosígenes Costa que trabalhava neste prédio para criação de seu personagem Sérgio Moura, no livro São Jorge dos Ilhéus . O prédio passou por algumas restaurações e sofreu poucas alterações na sua estrutura. Também podem ser encontrados móveis do palácio em bom estado de conservação. No primeiro projeto para o palácio, era exigido que a obra obedecesse ao estilo Luis XIV.

Na baía do Pontal, na qual estava localizado o antigo porto, encontra-se o Bataclan , hoje reconfigurado como espaço cultural. Era o famoso cabaré, onde acontecia a vida noturna da região com música, charutos e mesas de pôquer, tendo ficado famoso, ao ambientar o romance Gabriela, Cravo e Canela de Jorge Amado. Nos anos 20, era o salão onde se dançava valsa, tango, fox-trot e samba-canção. Freqüentado por poderosos coronéis atraídos pelas mulheres vindas de todas as partes do mundo. Foi restaurado pelo governo municipal em convênio com a Petrobrás, hoje é um centro cultural para exposições artísticas. Possui um ambiente temático, que é o quarto de Maria Machadão, proprietária do cabaré no livro de Jorge Amado, onde acontecem apresentações teatrais.

Também na baía do Pontal, localiza-se o Ilhéus Hotel , construído em 1930 pelo Cel. Misael Tavares, para hospedar os comerciantes e visitantes que desembarcavam nas imediações do porto. Na parte térrea do prédio abrigava seu banco particular e dois depósitos de cacau. Na inauguração, serviu-se cardápio com comida francesa e foi o primeiro prédio a ter elevador no interior da Bahia. O prédio já passou por algumas restaurações, mas procurou preservar o estilo original.

Em outro ponto da cidade, está a Igreja de São Jorge , em estilo colonial do século XVI. Foi construída com pedras de Cantaria pelos primeiros moradores da capitania aos cuidados do Pe. Francisco Pires. É a igreja mais antiga de Ilhéus, inaugurada em 1556. A arquitetura permanece a mesma, graças às restaurações, que preservaram os traços originais. O seu interior guarda um museu, o Museu de Arte Sacra, que ocupa a sacristia e o corredor da igreja, com obras sacras do século XVI, XVII e XVIII, descobertas na reforma de 1968 a 1970. Há uma imagem secular de São Jorge, sem o cavalo, única na América Latina. Além de imagens neo-clássicas, arcaz de madeira, mesa de saia, cálice e lâmpada de prata, pia batismal de mármore e uma lápide de pedra de 1955, feita de óleo de peixe, areia e concha moída.

Ao lado da igreja, encontra-se o Palácio Misael Tavares , atualmente é a sede da Loja Maçônica Regeneração Sul Baiano, foi construído em 1914. Tem o requinte arquitetônico da época dos coronéis. Foi construído para ser uma das residências de um coronel de cacau, Misael Tavares, que foi considerado o maior produtor individual de cacau do mundo. Aquele tempo o seu interior ostentava um luxo principesco, tinha maçanetas de cristal importadas da Bélgica, tapetes persas e desenhos no teto igual ao assoalho. Situada à Rua Antônio Lavigne Lemos, próximo à Praça Rui Barbosa.

No antigo Grupo Escolar Gal. Osório, estão instalados a Biblioteca Pública Municipal Adonias Filho e o Arquivo Público Municipal João Mangabeira , em construção que data de 1915, com quatorze amplas salas, projetada por Durval Olivieri. Foi conservada a estrutura original do prédio localizado na Praça Castro Alves. Instituições administradas pela Fundação Cultural de Ilhéus possui um acervo de vinte mil volumes, inauguradas no dia 28 de junho de 2002, no programa em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz.

A Igreja de Nossa Senhora da Vitória , que abriga em seu conjunto o Cemitério Municipal, passou por diversas reformas, alterando seu estilo original. Nos meados do século XVI, no Alto dos Quintas, tem na história as lutas entre colonos de Ilhéus e índios da nação Aimoré, e a construção da Igreja Nossa Senhora das Neves, que foi reconstruída em 1565 como Nossa Senhora da Vitória, em estilo proto-barroca. Serviu de fortaleza aos ilheenses quando dos ataques de piratas estrangeiros à vila, das invasões francesa em 1595 e holandesa em 1638. Em 1887, um incêndio destruiu a igreja e as imagens, inclusive da santa, trazida de Portugal no século XVII. Na restauração de 1905 mudou o estilo de proto-barroco para gótico. Na reforma de 1972 a 1975 voltou a ter linhas originais. O cemitério simbolizava a estratificação no espaço da morte, que no caso de Ilhéus tem a elite cacaueira.

Próximo a esta edificação, encontra-se o Conjunto Arquitetônico da Piedade , composto pelo convento, capela, escola, museu e também abriga o Palácio Episcopal, hoje prédio de uma escola pública. Foi fundado em 1916 pelas freiras ursulinas lideradas pela madre francesa Thaís do Sagrado Coração Paillart. Construído por Salomão da Silveira, nos terrenos doados pelo bispo no Alto dos Quintas para servir de escola de educação religiosa inicialmente para moças. Começou a funcionar em 16 de julho de 1917, formando a primeira turma de normalistas em 1923. De 1916 até 1970, o colégio atendeu a toda a região cacaueira, e até mesmo a outros estados do Nordeste, graças à existência do internato. O Instituto Nossa Senhora da Piedade, além de seu grande valor social, cultural e arquitetônico, é um cartão postal de Ilhéus. Sua beleza domina a parte alta da cidade.

Nos distritos de Ilhéus, há ainda a Capela de Nossa Senhora de Santana , considerado um dos templos mais antigos da Bahia de 1563, construída às margens do Rio de Engenho pelos jesuítas, onde funcionava o engenho de Mém de Sá. Foram conservados seus traços coloniais originais. A imagem de N. S. Santana foi trazida de Portugal, pelos jesuítas. A partir daí, o engenho e o rio também passaram a serem chamados de Santana. Este prédio é tombado pela IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão federal), consta também no inventário de Proteção ao Acervo Cultural da Bahia. E, em Olivença, encontra-se a Igreja de Nossa Senhora da Escada de 1700 que também foi construída pelos jesuítas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo, em Ilhéus, é uma das atividades econômicas, que ainda não despontou, no cenário turístico, como um pólo forte que desencadeia, por si só, a economia local. Ainda necessita de uma administração que redescubra o seu potencial, através dos atrativos naturais e culturais e forneça uma infra-estrutura de acordo com as suas necessidades. A criação de projetos de políticas públicas devem organizar a atividade turística, com roteiros e programas capazes de aumentar o número de turistas e sua permanência no local.

Quando se discute porque o patrimônio histórico-cultural deve ser preservado, podem-se analisar os interesses envolvidos, nesse processo. A partir dos interesses econômicos, há a preservação do patrimônio em função do turismo, tornando a cultura uma mercadoria. Assim, o patrimônio cultural passa a ser mais preservado, na medida em que o interesse turístico por prédios históricos, torna-os economicamente viáveis, ao serem ressignificados. A exemplo de outros lugares, onde são transformados em centros culturais, museus, restaurantes, pousadas, centros de eventos e outras atividades, que visam a se beneficiar dos monumentos históricos já existentes para atrair turistas e, conseqüentemente, obter lucros diretamente do uso e da potencialidade do local.

Além disso, para garantir a atividade turística, de forma organizada, são necessárias várias ações, como: limpeza, higiene da cidade; preservação ambiental; educação da população; pessoal qualificado para trabalhar com o turismo e, logicamente, a preservação do patrimônio histórico-cultural.

Como a cidade de Ilhéus possui um patrimônio de grande valor histórico e cultural, este deve ser preservado e revitalizado para o setor turístico, quando se apresenta como atrativo turístico do local. Mas, para isso é necessário ações realizadas no sistema que integre a esfera pública, a iniciativa privada e a comunidade, para tornar o turismo uma atividade sustentável para a cidade e para a região.

REFERÊNCIAS

AMADO, J. Gabriela, Cravo e Canela. 79 ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.

AVIGHI, C. M. Turismo, Globalização e Cultura. In: LAGE, B. H. G.; MILONE, P. C. (Orgs.) Turismo: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2000. p. 102-106.

BENI, C. M. Política e estratégia regional - Planejamento integrado e sustentável do turismo. In: LAGE, B. H. G.; MILONE, P. C. (Orgs.) Turismo: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2000. p. 165-171.

FUNARI, P. P.; PINSKY, J. (orgs.) Turismo e patrimônio cultural. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2005. (Coleção Turismo Contexto).

LEMOS, C. A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção Primeiros Passos).

PELLEGRINI FILHO, A. Ecologia, cultura e turismo. 2 ed. Campinas, SP: Papirus, 1997.

SACRAMENTO, S. M. P. A viagem à literatura: do etnocentrismo a desconstrução. In: Identidade Cultural e Expressões Regionais _ Estudos sobre Cultura, Literatura e Turismo. Ilhéus: Editus, 2005. (no prelo).

SIMÕES, M. L. N . Turismo cultural e sustentabilidade: exemplo da região do sul do estado da Bahia, Brasil. I Congresso Virtual Internacional de Cultura e Turismo. www.equiponaya.com.ar/turismo/congreso Argentina. Outubro de 2001 b.

NOTAS

* Mestranda em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, na Bahia, Brasil. Bacharel em Comunicação Social - Rádio e Televisão pela UESC. Projeto de Pesquisa: "O Patrimônio de Ilhéus em Sites Informativos de Turismo". Orientadora: Prof. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento. Bolsista da FAPESB - Bahia. E-mail: julianna_torezani@yahoo.com.br.


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